quinta-feira, novembro 29, 2007

Aquele abraço!

Aos amigos queridos e principalmente ao Kenji, agradeço muito pelos parabéns!

Sim, notícia boa é para ser dividida!

A reportagem 'Celeridade e Justiça', 4a edição da Revista Fórum CESA, cuja jornalista responsável sou eu, ficou em 2o lugar na categoria nacional-Revista no Prêmio de Jornalismo da Associação dos Magistrados Brasileiros!

(...)
Chacrinha continua
Balançando a pança
E buzinando a moça
E comandando a massa
E continua dando
As ordens no terreiro...


(...)
Alô moça da favela
Aquele Abraço!
Todo mundo da Portela
Aquele Abraço!
Todo mês de fevereiro
Aquele passo!
Alô Banda de Ipanema
Aquele Abraço!...


Meu caminho pelo mundo
Eu mesmo traço
A Bahia já me deu
Régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu
Aquele Abraço!


Prá você que meu esqueceu


Huuummm!


Aquele Abraço!


Alô Rio de Janeiro
Aquele Abraço!
Todo o povo brasileiro
Aquele Abraço!...


sexta-feira, novembro 23, 2007

Clichê

Estou calmamente lendo a Folha de S. Paulo hoje e me deparo com o seguinte texto:

Crítica
Michael Mann faz obra-prima em "Miami Vice"


Paulo Santos Lima - colaboração para a Folha

O olhar é uma coisa forte nos filmes de Michael Mann. É através dele que sabemos mais sobre os personagens, homens que carregam o peso do mundo, com seus olhares meio perdidos ou misteriosos, avistando algo além do horizonte.
São assim os olhos aflitos e apaixonados de Sonny Crockett (Colin Farrell) em "Miami Vice" (TC Premium, 0h10). Ele, policial infiltrado que gamou em Isabella (Gong Li), a mulher do traficante.
Aqui vem a sensibilidade cineasta de Mann. Sabendo da diluição que seria verbalizar o drama de Sonny, a opção é fazê-lo pela imagem, ao nível da superfície, preservando as interioridades.
Mas não completamente, pois saberemos pelos olhos de um capanga que Sonny não é o único a fim de Isabella. As paixões, aqui, tumultuam ainda mais o mundo de identidades voláteis mostrado por Mann.
Outro olhar que não deve ficar de fora é o nosso. Com ele, se verá o belo exercício cinematográfico desta obra-prima -os olhos não mentem jamais.

Detalhe: não é um engano, o crítico está falando do filme Miami Vice, baseado na série, que tem como protagonistas Colin Farrell e Jamie Foxx.

Leiam comigo:

O olhar é uma coisa forte nos filmes de Michael Mann...

homens que carregam o peso do mundo ... olhares meio perdidos ou misteriosos ... algo além do horizonte...

... os olhos aflitos e apaixonados...

Ele, policial ... que gamou na mulher do traficante ... a sensibilidade cineasta de Mann...

...diluição que seria verbalizar o drama de Sonny... fazê-lo pela imagem, ao nível da superfície, preservando as interioridades...

As paixões, aqui, tumultuam ainda mais o mundo de identidades voláteis...

... o belo exercício cinematográfico desta obra-prima ... os olhos não mentem jamais.

Se fosse um filme do Ingmar Bergman, esse texto, com todas suas pérolas (sensibilidade cineasta? Verbalizar o drama? Preservando as interioridades? Identidades voláteis? Belo exercício cinematográfico? E o gran-finale: os olhos não mentem jamais) já seria a maior concentração de clichês por número de letras de todos os tempos.

Acontece que se trata de um filme de ação. Tipo Desejo de Matar do Charles Bronson, sabe? A carga dramática dos olhos do Colin Farrell é a mesma da faixa vermelha na cabeça do Silvester Stallone em Rambo. Ou da bunda da Carla Perez em Cinderela Baiana.

Não conheço esse moço, Paulo Santos Lima, não sei pra que time torce. Mas, certamente, ele contou uma piada e eu morri de rir.


Será que com esses olhares aflitos e perdidos, eles estão conseguindo preservar as suas interioridades?

quinta-feira, novembro 15, 2007

Mil anos depois...

1. Pegar o livro mais próximo.
O Mulo – Darcy Ribeiro

2. Abri-lo na página 161.
Fácil, ele tem 383.

3. Procurar a 5ª frase completa.
4. Postar a frase no blog.

"Lá acampei pela primeira vez no modo tropeiro, expondo mercadoria"

5. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro (usar o mais próximo)
ok, realmente não é 'o melhor' livro do Darcy Ribeiro.

6. Repassar o desafio para cinco blogs
Lila,
Clarice,
Omni,
Muriloq
É o suficiente?

7. O que você está achando desse livro?
Duro. Triste. Lindamente escrito. O Darcy Ribeiro é meu herói. Tudo que ele fez na vida fez maravilhosamente bem, com genialidade, vigor, entrega. Esse livro fala de como o meio pode maltratar o homem, como a pobreza pode endurecê-lo, e as dificuldades impedirem que ele se forme com a devida dignidade. Fala de um homem que não se acreditava inteiramente gente, mas meio bicho, meio mulo. E não que lhe tenha faltado recursos a vida toda, porém faltou-lhe confiança em si e no outro para acreditar que alguém poderia realmente dedicar-lhe um sentimento bom, amá-lo, respeitá-lo, já que ele mesmo não se sentia digno o suficiente para tanto. Triste, né?


"Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu"

terça-feira, novembro 06, 2007

Meu Guri


Utilidade dos assobios
Chico Mattoso

Tem coisa que a gente sabe que vai acabar mal. Tudo muito calmo, tudo muito certo, tudo correndo do jeito que deveria, mas a gente vê que aí tem. É como um pequeno vazamento, um cheiro sutil que se desprende de algum lugar, e a gente sabe, a gente sempre sabe, a gente põe as mãos nos bolsos e tenta assobiar mas é óbvio que isso não adianta. Então começa a acontecer, a gente vê que está começando, mas finge que não é nada, que é bobagem, que o melhor a fazer é soltar um bocejo e dar uma conferida displicente nas unhas da mão, ah, que sujeira, e então um suspiro frouxo, um estalar de língua, uma olhada rápida no relógio enquanto ao lado a coisa cresce, alheia à nossa indiferença, e ganha massa feito um bolo no forno. A coisa já aconteceu, a coisa está explodindo e já não dá para inventar disfarces, é preciso fazer algo mas a única idéia que aparece é enfiar-se no banheiro e fingir qualquer problema. A gente tem um monte de amigos, a gente vai a festas e fala no telefone e se encontra na internet, e isso parece construir uma espécie de proteção contra as coisas, e a gente esquece que toda relação tem algo de virtual, porque, no fim das contas, nenhuma solidão é capaz de misturar-se a outra. Mas começa a ficar tarde, e a gente põe de novo as mãos nos bolsos, e vai andando pra casa como se nada tivesse acontecido, e no quarteirão de cima um carro buzina e é preciso endurecer o corpo para não sucumbir ao vento gelado. Então é preciso dormir, e ter sonhos estranhos, e acordar com dor de cabeça, e escovar os dentes olhando a própria cara amassada e decidir-se, na amnésia forçada de cada manhã, a tomar uma ducha quente e começar tudo de novo. Porque a gente sabe.

Texto publicado na Revista MTV nº 40, ano 4, setembro de 2004.

E eu que encontrei esse texto num blog do meu primo André.

E era só um molequinho. Ontem.

terça-feira, setembro 11, 2007

O processo

Eu não sei se eu estou com mais raiva de mim mesma por digitar um numerinho da data de validade do cartão errado, da operadora do cartão que não aprovou a compra por causa disso (mesmo tendo todos os meus dados corretamente e meu telefone celular para ligar e peguntar: você tentou fazer a compra x? eu responder sim e eles dizerem 'ah mas você não conseguiu') ou do atendimento da submarino que não consegue responder nada com nada muito menos finalizar a compra.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Adeus, Lênin

Aí estava eu sentadinha esperando o meu avião no aeroporto de Cumbica (Guarulhos/SP) veio um 'jovenzinho' e se apresentou.
Imaginei imediatamente que ele queria me vender alguma coisa.
Preconceitos à parte, ele queria mesmo, o jornal "Classe Operária", o veículo de divulgação das idéias do Partido da Classe Operária - PCO.
Pensei com meus botões: ele poderia estar roubando, jogando ovo na cabeça dos outros, matando, atropelando prostitutas, cheirando cola, mas está aqui e acredita em alguma coisa.
Aí resolvi dar corda.
Trocamos algumas idéias (sim, eles têm idéias) e acabei comprando o tal jornal por R$ 3,00 'para dar uma força'.
Sinceramente, está longe de ser, digamos, um exemplo de jornalismo objetivo e, idéia por idéia, a maioria delas é bem fraquinha.
Acontece que dentro da minha estranha linha de raciocínio que foge de qualquer paradigma dos anos zero-zero (termo do Kenji), ainda é melhor cultuar o materialismo histórico do Trotsky que a sua última calça jeans.
É melhor defender causas justas por vias questionáveis do que simplesmente não tê-las.
Como tudo tem dois lados, também é prudente não se deixar envolver demais por esses momentos 'eu apoio os jovens idealistas mesmo não apoiando seus ideais'.
Ou seja, fui uma anta quando aceitei que o 'jovenzinho' anotasse o meu e-mail pessoal para enviar 'informações relevantes sobre os movimentos sociais que a mídia neoliberal não cobre'.
Abro minha caixa de entrada e está lá, o Correio dos Trabalhadores número 674.
Quem merece isso, meu Deus?
De onde eles tiram tantos argumentos para discordar de todo mundo?
Sim, de todo mundo, porque até os sindicalistas (que não sejam filiados ao PCO evidentemente) são os 'sindicalistas-mensalões'.
Até no PSOL eles metem o pau. (Eu que achei que seria o PSOL o pilar da esquerda-xiita-tô-com-raiva-do-mundo)
Alguém me responda, para que?
Bom, eles poderiam estar matando, cheirando cola...

PS - Eu agrado bastante de escrever nesse blog, mas andei realmente sem tempo.
É a velha história. A gente vive reclamando que não tem tempo para nada, que está cansada, que a vida é muito estressante.
Quando pára dois minutinhos para pensar, chega à brilhante conclusão que 90% das coisas que faz são opções de vida e foram arduamente almejadas e conquistadas por você: sua casa, seu trabalho, sua aprendizagem, sua cultura, seu lazer, seu prazer.
Pior. Quando você pensa em abrir mão de uma delas que seja, descobre que não pretende abandonar nenhuma.
E que de preferência todas devem estar juntas, pois são as próprias que nos dão a boa e velha sensação de estarmos vivos. Vivos e felizes. Vivos, felizes e cansados.

sexta-feira, julho 20, 2007

O filho do demônio – Parte II

Folha Online melhora o texto Saiba mais sobre o senador Antonio Carlos Magalhães e acrescenta:

Para ocupar a prefeitura, licenciou-se da Câmara em janeiro de 1967. Na ocasião ACM já estava filiado à Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido que dava sustentação ao governo militar e que fora criado no ano anterior.

Ao fim do mandato de prefeito, em 1970, reassumiu seu papel de deputado federal, cargo que exerceria por menos de um ano, já que, em 1971, foi indicado pelo presidente Emílio Garrastazu Médici para ser o governador da Bahia.


Eu e o Kenji enviamos um e-mail solicitando uma correção das informações e eles responderam em menos de 15 minutos.
Viu? Se a gente se mexe de cá, eles se mexem de lá também. De qualquer forma, ponto para a Folha Online.
Coração Satânico

Folha Online omite que ACM foi prefeito de Salvador e governador da Bahia por duas vezes 'biônico' ou seja, indicado pela Ditadura Militar ou eleito indiretamente.

Trechos da matéria 'Saiba mais sobre o senador Antonio Carlos Magalhães'

O senador Antonio Carlos Peixoto de Magalhães (DEM-BA), 79, nasceu em Salvador em 4 de setembro de 1927 e fez da Bahia seu reduto político.

(...)

ACM exerceu diversos cargos públicos, como deputado estadual, federal, senador, prefeito de Salvador e governador da Bahia por três vezes. Até a Presidência da República ele assumiu interinamente por uma semana, de 15 a 22 de maio de 1998, na gestão do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Seu primeiro mandato eletivo foi em 1954, quando conseguiu uma vaga na Assembléia Legislativa da Bahia pela UDN (União Democrática Nacional). Em 1958, se elegeu deputado federal, sendo reeleito mais duas vezes em 1962 e 1966. ACM se licenciou do cargo para assumir, em 13 de fevereiro de 1967, a Prefeitura de Salvador.

Dois anos depois, em 2 de abril de 1970, o então prefeito ACM deixou a Prefeitura de Salvador para se candidatar ao governo da Bahia, sendo eleito em 3 de outubro do mesmo ano.

(...)

Em setembro de 1978, foi eleito novamente governador da Bahia, desta vez pelo Arena. Ficou no cargo entre 15 de março de 1979 até 15 de março de 1983.

(...)

Em 3 de outubro de 1990 foi eleito novamente governador da Bahia. Ao deixar o cargo, em 1994, foi eleito senador pela Bahia, chegando à presidência do Senado para o biênio 1997/1999. Em 30 de maio de 2001 o senador renunciou ao mandato para evitar a cassação.

O pedido de cassação já havia sido aprovado pelo Conselho de Ética do Senado e, na ocasião, ACM decidiu renunciar antes que a Mesa aprovasse a abertura de processo contra ele. Com isso, o senador poderia perder o mandato e teria os direitos políticos suspensos por oito anos.

(...)

Apesar da renúncia, ACM foi reeleito novamente para o Senado em 2002.


Durmam com um barulho desses...
A profecia

Não vou soltar foguete, nem festejar, nem gargalhar, por respeito.
A morte do senador Antônio Carlos Magalhães, no entanto, não me comove em absolutamente nada.
Minha única tristeza é saber que ACM não leva consigo a sua geração.
Mortes como a do Pinochet trazem aos que viveram suas atrocidades certo alívio porque enterram uma era de horror.
Enterram aquilo que mantemos a esperança de que não voltará.
A morte de ACM, infelizmente, não.
Ainda convivemos com a ganância, a mesquinhez, a impunidade, o abuso de poder, o desrespeito pelo povo e pelo bem público, que foram marcas registradas daquele que se considerava o 'coronel' da Bahia e tentou arduamente ser o do Brasil.
Convivemos com o poder de seus filhos e netos.
Convivemos com o seu 'legado'.
Eu gostaria, sinceramente, de não ter que esperar todos os ACMs (de nome ou só de ideologia) morrerem para enterrar o que eles representam.


que tenha o descanso merecido

quinta-feira, julho 19, 2007

La flor de mi secreto

Manchete do jornal espanhol El País de hoje:

El presunto etarra buscado en Castellón viajaba en taxi a Tarragona con explosivos

Desculpa, mas eu tive que rir. :-)

A coisa mais divertida de estudar espanhol é, sem dúvida, descobrir falsos cognatos.

A frase acima significa, mais ou menos, 'o acusado de participar do grupo terrorista ETA em Castellón ia de táxi para Tarragona com explosivos'

Castellón e Tarragona são províncias espanholas (correspondem a Estados no Brasil)

Você sabia?

A sigla do grupo separatista basco ETA vem de Euskadi ta Askatasuna, que está em euskera (língua basca) e significa 'pátria basca e liberdade'.

quarta-feira, julho 18, 2007

Terra em Transe

O Gabriel Garcia Marques tem um livro chamado "Crônica de uma Morte Anunciada".
Sim, é possível falar de mortes, desastres, tragédias que foram anunciadas e não evitadas.
É o caso do acidente com o avião da TAM que, pelo jeito, matou mais de 200 pessoas.
E não há explicação que possa diminuir a responsabilidade da crise aérea nesse acidente.
Não é possível dizer, não foi a obra, não foi a pista, não foram os controladores.
Os atrasos, o medo, a pressão, as dúvidas, se não foram responsáveis diretos por essas mortes, têm sua parcela de culpa.
Acho pouco provável que os fatos desmintam esse raciocínio.
O Gilberto Dimenstein , mesmo não contando com a minha absoluta simpatia, foi no ponto certo dessa questão: falta-nos cidadania.
Como essa tragédia foi anunciada, milhares de outras também o são, porém com impacto menor.
O jornalista mesmo citou dois excelentes exemplos: as milhares de mortes que ocorrem nas estradas mal conservadas e a morte de pelo menos um motoqueiro todos os dias na cidade de São Paulo.
Todos os dias.
Pessoas, se não fizermos nada, ninguém fará.
Até porque existe uma oposição e uma imprensa que não estão nem um pouco preocupadas em resolver o problema e cobrar providências.
A preocupação de ambas é clara: utilizar politicamente a tragédia para fortalecer o seu projeto eleitoral.
O racicínio é simples, vamos aproveitar porque a nossa sorte é que está acontecendo com o outro.
Se eles estivessem no poder, seria diferente?
Porque nenhum político de frente alguma organizou manifestações, cobrou resultados ou apresentou projetos e soluções técnicas até o momento?
Porque eles pouco se importam se morremos ou não.
Enquanto isso os responsáveis, todos os envolvidos são responsáveis, apontam o dedo um para o outro.
São 200 mortos, 200 famílias. Não gosto nem de pensar. Não gosto mesmo.
Só digo o seguinte: está na hora de atuar, de cobrar dos responsáveis, além das desculpas, soluções.
Cobrar da dita oposição vigilância e não oportunismo e da nossa imprensa responsabilidade, para informar com objetividade e isenção os reais fatos para que tomemos as medidas que estão ao nosso alcance.

domingo, julho 08, 2007

As armas e o povo

Estudar outras línguas sempre é bom. Inclusive para celebrar o envolvimento único que criamos com a nossa.

Língua Portuguesa
Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...


Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!


Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,


Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


quinta-feira, julho 05, 2007

5th July or The Day After

Porque, na verdade, toda moeda tem duas faces.

Tradução livre de artigo publicado no site espanhol da Anistia Internacional.

2.000 dias de Guantánamo

O 4 de julho é um dia de festa nos Estados Unidos, aniversário de sua Declaração de Independência que consagra, entre outros, os seguintes princípios: que todos os homens são iguais, dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis, que entre eles estão: a vida, a liberdade e a busca pela felicidade.

A amarga ironia é que, este ano, o 4 de julho também completa 2.000 dias desde que o governo norte-americano enviou os primeiros presos da "guerra contra o terror" para Guantánamo. (grifos originais)

Aproximadamente 375 presos permanecem reclusos em Guantánamo, muitos em condições cruéis, desumanas ou degradantes.

As autoridades norte-americanas afirmaram que entre 60 e 80 presos finalmente serão julgados por uma comissão militar. Um sistema de justiça que não reúne os requisitos mínimos, é discriminatório e que a Anistia Internacional pede aos Estados Unidos que abandone.

No ano passado pelo menos 15 presos "de alto valor" foram transferidos para Gantánamo vindos de centros de custódia secretos da CIA, o que reafirma o papel fundamental de Guantánamo na rede de detenções ilegais/ilegítimas dos Estados Unidos na "guerra contra o terror".

Cada dia que Guatánamo continua aberto, é um dia demais.

segunda-feira, julho 02, 2007

Prezados leitores, um comunicado importante

A Barbearia de Blues
voltou a funcionar, todo sábado, de 17 às 19 horas no Espaço Cultural Solar, Av. Bernardo Monteiro, 60 – Floresta (ao lado do Amarelinho).

Inspirada na Lori, farei um FAQ da Barbearia:

Que idéia esdrúxula é essa?
A inspiração para a Barbearia de Blues em BH veio dos States.
Um bando de gente se reúne semanalmente em Washington para tocar Blues numa Barbearia velha.
O antigo dono dessa barbearia era bluseiro e quando morreu seus amigos, para homenageá-lo e matar a saudade, resolveram se encontrar e tocar Blues.
A diferença básica entre as duas barbearias é que por aqui ninguém morreu.
Dessa forma o único objetivo é encontrar e tocar mesmo.
Nomes, datas e regrinhas no site .

Quem pode ir à Barbearia?
Todo mundo que gosta de tocar e ouvir Blues.

Se eu não toco nenhum instrumento nem canto eu posso ir à Barbearia?
Pode.

E porque eu faria isso?
Para se divertir.
Além de ouvir Blues, você poderá beber e comer no agradável Espaço Cultural Solar, encontrar velhos amigos e fazer novos.
Lembre-se, você está em Belo Horizonte, onde iniciativas como essa, são raras.
Provavelmente reunirá pessoas que, como você, sentem falta de opções que não envolvam apenas forró ou samba (nada contra nenhum dos dois gêneros, que eu gosto muito).
Ou seja, pessoas com gostos e interesses parecidos com os seus.

Se eu toco um instrumento/canto, mas tenho vergonha de fazê-lo em público, posso ir à Barbearia?
Pode e deve.

Por que posso e devo?
Porque você é o principal público alvo da Barbearia.
A idéia é justamente reunir amadores que adoram Blues, mas não têm espaço para tocar.
Não se preocupe, ninguém vai obrigá-lo a tocar na primeira vez que aparecer.
Você vai tocar quando quiser e quando perceber que tem um monte de gente que toca do mesmo jeito e que você nem é tão ruim assim.

E se eu toco um instrumento/canto para caralho, mas não tenho banda nem onde tocar, posso ir?
Pode e deve.
Você não vai ganhar dinheiro nenhum com isso, no entanto poderá tocar horrores, conhecer pessoas que curtem Blues tanto quanto você e quem sabe até encontrar outros músicos para montar sua sonhada banda.

E se eu toco um instrumento/canto para caralho, tenho banda e até ganho dinheiro com isso, porque iria gastar meu precioso tempo indo à Barbearia?
Você pode não saber, mas tem vários motivos para ir.
O primeiro deles é divulgar o seu trabalho.
A Barbearia será um excelente local para mostrar o quanto você é foda e se aproximar de seus futuros fãs.
Na barbearia você também terá a oportunidade de testar seu repertório, saber se o seu som realmente agrada.
E o mais incrível de tudo, você poderá se divertir, o que dinheiro algum pode pagar.

Se eu já fui à Barbearia de Blues em suas primeiras edições, por que voltaria?
Porque você lembra o quanto é legal.

Se eu sou do gaita-bh, do gaita-l, conheço a galera há anos mas não tenho tempo e acho o local, a data e o horário péssimos, porque mesmo assim eu deveria ir?

Porque um dia você vai morrer e seus amigos também.
E quando você estiver velho, sem poder beber, nem fumar, com filhos dizendo que você é um inútil, suas opções serão:

- Arrepender-se porque poderia ter ido e tocado e estado com seus amigos muito mais vezes, mas você pensou só nos problemas, não apareceu na Barbearia de Blues e ficou a ver navios.

- Lembrar de todos os bons momentos que viveu na Barbearia de Blues e assumir que se hoje é um velho rabugento e inútil pelo menos fez coisas mais legais que os idiotas dos seus filhos.

- Se tivermos sorte e você ajudar, toda vez que se sentir um inútil, que não pode beber nem fumar, nem contar com os idiotas dos seus filhos, poderá, todos os sábados de 17 às 19 horas, tocar Blues com seus amigos.

Pense nisso.

terça-feira, junho 26, 2007

Um dia, um gato

Outro dia, outro gato. É meio louco essa coisa de ter quatro gatas em casa. Quatro personalidades, todas felinas.
Rola uma sensação de 'os meus, os seus e os nossos', porque toda hora, nos cantinhos da casa, você dá de cara com um focinho diferente.
O grande lance é que quatro realmente não é pouco.
Antes eu ainda tinha uma política de ser tudo igual para as gatas.
Coisa de ser humano besta, que quer impor uma linha de raciocínio humano em um universo completamente diferente, onde funciona outra lógica.
Mas era a minha forma de lidar com elas.
Agora não é mais possível ser assim.
O que uma acha o máximo a outra não consegue nem entender.
Cada uma tem suas necessidades, suas prioridades, suas preferências.
Uma gosta de figo e alecrim, a outra quer água no copo, a terceira só pensa em brigar e a quarta se faz de inocente e mantém as outras três sob seu completo domínio.
Resumindo a ópera, a forma como eu me relaciono com o universo felino é que muda. Sou eu que aprendo tanto o que faz sentido em termos práticos como o que é invencionice da minha cabeça de gente.
Aliás, essa raça de gente, devem pensar minhas gatas, inventa coisa demais provavelmente para compensar o fato de não ser perfeita, como são os gatos.

segunda-feira, junho 18, 2007

Heaven e porque eu adoro fim de semana

Sexta: Primeira experiência próxima de um domingo feliz no apê novo. Ana, Arthur, Murilo, Cíntia e Paulinho provaram a minha pizza de funghi secchi. Foi muito bacana. Todos conversaram sobre tudo e eu tive mais notícias do Max, nosso pequeno notável.
Sem contar que as gatas ficaram muito felizes, do jeito delas, com as visitas.

Sábado: diversão pura. O Luciano Batista, gaitista muito gente boa de Juiz de Fora, nos convidou para assistir no Chevrolet Hall o show do Emerson Nogueira, que ele acompanha na gaita e na flauta transversal. Como a gente já tinha combinado de ir ao Capim Limão ver o João Timponi na cromática, acabamos assistindo a passagem de som do Emerson. Foi muito bacana, porque é o making off do show. A gente tem noção do que é um esquema profissa em termos de música, ouve as histórias, é muito interessante. E à noite fomos ouvir um jazzinho super bem levado pela banda Dejà Vu. O Capim Limão também é um lugar interessante e dependendo do público pode proporcionar vários tipos de espetáculos. Nesse sábado, fomos brindados por um casal apaixonado que deu um verdadeiro show de pegação explícita. Só faltou a produção de luzes e os efeitos sonoros. Juro que não é moralismo. Não tenho nada contra o sexo livre e até mesmo público, porque não? Mas as caras, bocas e jogadas de cabelo que a mulher fazia e a falta de cerimônia com que o cara enfiava a mão no decote dela, além de outras cositas, quase me mataram de rir. Na boa, é o tipo de exibicionismo que me faz crer que nós, o público, nos divertimos mais que o próprio casal envolvido.

Domingo: para fechar o fim de semana musical, fomos à Praça da Liberdade assistir o show do Marcus Suzano, com um tecladista que eu esqueci o nome: Alex alguma coisa. Som totalmente eletrônico, pandeiro com pedais, bem interessante. O Marcus Suzano toca pandeiro como eu nunca vi ninguém tocar na vida. Dá vontade de chorar. Eu finalmente entendi o que meus amigos gaitistas sentem quando assistem o Eberienos ou o Róbson tocar. Realmente tem-se a vontade de jogar o instrumento fora e esquecer aquilo. "A responsabilidade de tocar o seu pandeiro é a responsabilidade de você manter-se inteiro", Chico Science. Adorei isso.

Sobre o filme Heaven, é interessante. Eu assisti muito por acaso, no Telecine Cult, num hotel de São Paulo durante uma viagem a trabalho. Simplesmente a-do-rei, mas não sabia quem era o diretor nem nada. Acabei de saber que o roteiro é do Krzysztof Kieslowski. Ah bom! Tudo explicado! A direção é do Tom Tykwer de Corra, Lola, Corra, o que também é bom sinal. Agora quero assistir O Perfume – história de um assassino também dirigido pelo Tykwer.


Recomendo muito

terça-feira, junho 12, 2007

O desafio final

Provavelmente eu sou o pesadelo das vendedoras de loja.
Ganhei uma blusa e resolvi trocar por alguma coisa com mais chance de usar.
Para a vendedora, troca já é uma meleca porque não tem comissão, eu ainda sou boazinha e chego ao Minas Shopping 21h35, ou seja, quando ela começa a pensar em fechar o boteco e finalmente ir para casinha. Aí entra a chata (eu) na loja.

Depois das explicações introdutórias, o diálogo:
- Então você quer trocar o tamanho?
- Não... eu queria trocar o modelo mesmo, esse tem muito fru-fru... Eu tenho que escolher entre essas blusas aqui?
- Não, pode escolher qualquer coisa na loja. Você gosta de quê?
- Não sei... Tem calça jeans?
- Tem sim. Olha os modelos.
Eu olho.
- Não sei... Tem sem essas pedrinhas?
- Não.
- E esse modelo?
- Esse modelo não tem 38 nem 40... Mas tem jaqueta. Você gosta?
- Gosto!
- Olha essas
Eu olho.
- Não sei... Tem sem essas pedrinhas?
- Não.
- É que eu não gosto de fru-fru...
- Mas está usando!

Pausa: nesse momento, todos os meus pelinhos arrepiam, meus instintos colocam-se à flor da pele e eu quero dizer: Veja bem, eu não uso uma coisa ri-dí-cu-la só porque 'está usando'. Aliás, detesto esse conceito de 'se todo mundo usa é usável'. Por essa razão tem mulher saindo na rua igual uma palhaça com o shortinho do príncipe valente: porque está usando!

Controlo-me e volto com um sorriso:
- Não sei... E calça de pano, você tem do meu número?
- Tenho preta.
- E de outra cor?
- Tenho aquelas ali.
Ela aponta para um monte de panos dobrados nos tons azul calcinha, rosa calcinha e cáqui.
- Não sei...
- E vestidinho, você gosta?
- Gosto.
- Olha, tem esses aqui...
- Tem sem ser tomara-que-caia?
- Tem, mas...

Pausa para um momento de tensão...

- É que eu não gosto de tomara-que-caia...

No meio de muitos tomara-que-caia e tecidos estampados com flores roxas, encontrei o meu número. Vestido preto, totalmente solto, super Wednesday Adams. Adorei. Tinha um vermelhinho com faixa preta que eu também achei legal.

- Posso experimentar?
Experimentei e o vestido preto tinha uma gola meio canoa. Fiquei na dúvida, e perguntei:
- Será grande para mim?
- Não! É assim mesmo!
- Jura?
- Juro, igual a fulana, da novela das oito...
- Quem?
- A fulana da novela das oito
- Não sei... não vejo novela...

Pausa: nesse momento a atingida em seus instintos assassinos foi a vendedora. Ela me encarou com aquela cara e eu pude ler nos olhos dela: Olha, não gostou do vestido, é só falar, ok? Agora, por favor, não me venha com esse papo de 'eu não assisto novela'. Porque to-do-mun-do sabe que to-do-mun-do assiste novela. Eu não sou idiota, ok?

Mas como era de se esperar de uma profissional, a mocinha controlou-se e voltou com um sorriso:

- Tem um vestindo desse na vitrine, olha como fica...
- Aaahhhh, legal.
- Aí você coloca um cinto, igual na vitrine, para ficar 'afofadinho'.
Realmente, na vitrine, eles estragaram o vestido com um cinto e não ficava parecendo a Wednesday.
- Não sei... é que eu não gosto de cinto...

Mais uma pausa para momento de tensão

- Mas usa... Bem, o vestido 'vestiu super bem em você' (a frase mais usada pelas vendedoras em todos os tempos), e pode usar com a sua bota...
O fato é que por acaso eu estava com uma meia-calça vermelha por baixo da calça preta e minha bota de verniz (por causa do frio e debaixo da calça, ninguém via). E com o vestidinho solto já rolou um certo visual, tipo Wednesday, saca?
- Posso usar sem cinto?
- Pode sim, do jeito que você quiser!

(pausa para o momento acabou a tensão, vou para casa livre dessa louca)

- Então eu vou levar.

O final feliz é que o vestidinho era R$ 20,00 mais caro que a blusa o que garantiu alguma satisfação à vendedora e para mim, um vestidinho que saiu por 20 reais ainda era bastante lucro.

sexta-feira, maio 18, 2007

Depois de Horas

Como o Kenji eu também queria falar sobre um monte de coisas aqui nesse blog:
do proibidão do Roberto Carlos
das mudinhas da janela
dos shows de gaita e workshops de pandeiro
do Rio de Janeiro, com os mil chopps da Lila e propagandas esdrúxulas
das Revistas que eu comprei
da aula de francês que não rolou, mas valeu a intenção
do sonho com o Zé Dirceu
E, nesse momento, da minha raiva absoluta de um funcionário da Caixa Econômica Federal

Mas não tenho tempo. Então, até a próxima e vamos tomar uma.


Mas essa eu não posso deixar passar: a melhor coisa dessa história de censura é ver o povo caindo de pau no Roberto Carlos chamando de maluco, histérico, bundão, cuzão, ganancioso e por aí vai. Bem feito. Dinheiro não compra tudo não, tremendão!

segunda-feira, abril 23, 2007

Les Temps Qui Changent

Então mudamos. Apê novo na José Cândido da Silveira, Cidade Nova. Saímos da Zona Sul, mas esse é nosso!

Ainda está uma confusão completa. Não tem fogão, o banheiro da suíte precisa de uns reparos, estamos sem telefone fixo e sem tv também. Ontem tentamos assistir com uma antena interna bastante antiga e, claro, não rolou. Essas coisinhas todas, no entanto, devem ser resolvidas super rápido, tudo muito simples.

O mais incrível é que estou achando isso tudo ótimo. Adorei a idéia de arrumar a casa desde o início, do nosso jeito. Sem contar que é incrível descobrir a loja Lar & Construção. Você sabia que existe uma aparelhinho eletrônico anti-mofo? Sabia que existem mil opções de interfone e de temporizadores de luz, com e sem sensor de presença? Eu também não. Nem poderia cogitar um dia ter uma enxada. Agora tenho e a adoro. Algumas pessoas podem até considerar certo exagero, uma vez que o que existe de terra, ou seja, de espaço para capinar efetivamente, ultrapasse por muito pouco um vaso. Mas não faz mal, não ligo para convenções sociais e estou feliz com ela.

Outro prazer é ver as gatas e a natureza agindo. Elas estão malucas pulando de um lado para o outro, tentando se adaptar a nova realidade, disputando territórios e dominância. Resumindo, estão se divertindo às pampas.

Relaxei bastante com relação às pendências. Incrível, entramos no apartamento e eu saquei o óbvio: agora temos todo o tempo do mundo. Então, sem pressa, sem pressão, sem ranger de dentes, vamos colocando as coisas no lugar. E vai ficar tudo muito bacana, tenho certeza.

Aguardem inaugurações em breve.


olha que bárbaro o breguetinho que a gente comprou para a cozinha

segunda-feira, abril 16, 2007

O Diário do Homem-Urso

Ontem, depois de muita espera assisti esse documentário do Werner Herzog sobre um homem, bem doido, que passou 13 anos de sua vida passando os verões com ursos selvagens no Alasca. Eu estava doida para assistir por dois motivos. Primeiro porque era um documentário do Herzog e segundo porque tinha ouvido em algum lugar que o cineasta, que também é bem doidão, tinha colocado a imagem do cara sendo morto por um urso. Se o segundo motivo fosse o principal eu estava lascada porque não tem nada disso. Em compensação, a primeira razão foi totalmente contemplada. O Herzog teve a manha de perceber na história do tal Timothy Treadwell muito mais coisa que a tragédia em si.

Resumindo a ópera: o Timothy era um cara meio problemático, sem muito lugar no mundo que um dia foi para o Alasca e resolveu anualmente passar o verão com os ursos pardos e filmar a experiência com o intuito de divulgar a vida selvagem para preservá-la e, teoricamente, protegê-los dos caçadores ilegais. Quando não estava no meio dos ursos (no inverno enquanto seus amiguinhos dormiam), ele ministrava palestras gratuitas nas escolas e tentava divulgar seu trabalho na TV. Até teve um certo reconhecimento, foi no David Letterman, virou uma pseudo-celebridade. Um dia já estava quase indo embora de mais um verão entre os ursos e um deles, mais velho, provavelmente faminto, comeu o Timothy e a namorada dele que justamente naquele verão resolveu ir junto. Na grande maioria das vezes ele ia sozinho.

Como todos sabem acidentes acontecem. Aconteceu com o Ayrton Senna, aconteceu com o Steve Irwin (mesmo que o Irwin morreu depois do Timothy) mas no caso do tal Homem-Urso rolou uma polêmica porque muitas pessoas acharam que ele tinha ultrapassado a barreira do bom senso. Há registros dele tentando passar a mão nos 'ursos amigos', ele dizia que queria 'ser um urso', 'viver como um urso'. Sem contar que o cara não tinha formação nenhuma, não era biólogo, nem veterinário, e mesmo essa coisa de 'defensor' dos animais era um tanto questionável porque, na verdade, ele passava os verões em uma reserva ambiental onde os 'caçadores ilegais', seus inimigos mortais, quase não apareciam. Só aí já dava para fazer um documentário bem legal.

Mas a gente tem que contar com a genialidade do Herzog. Porque ele não se restringiu àquela discussão boçal de 'ele estava certo?', 'ele estava errado?'. Mas também não fugiu da polêmica. Várias questões são tratadas no documentário inclusive essa, mas não apenas. Um ótimo exemplo de enfoque inusitado é o da morte de um cineasta. Herzog, que narra o documentário em primeira pessoa, apaixona-se pelas imagens capturadas durante esses 13 anos pelo Timothy. Tem uma cena super bonita de uma mata ao vento que na verdade é um ‘vazio’ para Timothy uma vez que a ela só existe porque o pseudo-documentarista, como viajava sozinho, ajeitava a câmera no tripé, se posicionava, depois conferia na câmera se estava bem enquadrado para voltar finalmente ao mesmo lugar e dizer seu texto. Nessa cena do 'vazio' a voz em off de Herzog diz que muito da beleza que Timothy captava ele mesmo não se dava conta. E era mesmo.

O mais bonito de tudo do documentário, no entanto, que eu inclusive deixei propositalmente para o final, foi a bem sucedida tentativa de Herzog de entender a natureza daquele homem, não a luta entre homem e natureza. A grande, brilhante, genial sacada do Herzog foi retirar das imagens, dos depoimentos, dos monólogos meio alucinados de um sujeito que estava sozinho no mato há quatro meses, a sua humanidade. Porque a conclusão óbvia seria: a natureza venceu o homem. E venceu mesmo, venceu principalmente a sua idealização, o seu desejo de ter na natureza um berço, um afago. A natureza não tem dó de ninguém. Ok, é isso mesmo. Porém – e é o olhar sensível do Herzog que mostra que há sim um porém – foi através dessa experiência, que aquele ser encontrou a sua humanidade. Na tentativa de se transformar em urso ele viveu intensamente a experiência de ser um homem. Tanto que durante as expedições Timothy Treadwell tem momentos de absoluta euforia (quando está com ursos ou raposas), emoção profunda (chora ao se despedir dos animais), de fúria (com quem eles estão pensando que estão falando, eu sou um guerreiro, eu conheço como ninguém esses ursos e essas terras e sou o protetor deles), de vaidade (ele está no meio do mato, sozinho, e pergunta para si mesmo, várias vezes, se o cabelo está arrumado, se deve usar a bandana verde ou a preta, qual é a mais sexy), de paranóia, de narcisismo, de bondade. É essa condição humana que Herzog consegue obter da tragédia e que é brilhante. Muitos críticos do homem-urso diziam que Timothy Treadwell era um idiota, que a sua relação com os ursos era muito mais desrespeitosa que bonita. Herzog mostrou, sem desmenti-los, que o ser humano é muito mais complexo para se deixar restringir apenas pelas atitudes lógicas e de bom senso e, principalmente, provou mais uma vez, para o meu deleite, que é um puta cineasta.


o doidão com seus ursinhos

sexta-feira, abril 13, 2007

Big Brother Brasil

O verdadeiro Big Brother Brasil é a camerazinha do elevador. Eu, por exemplo, só sei pensar falando e só sei falar gesticulando. Então, além de falar sozinha eu gesticulo sozinha, ando, bato palma, faço caras e bocas. Qual minha surpresa quando, ontem, saindo do serviço no elevador sozinha, chego ao térreo e encontro duas colegas de serviço dependuradas no balcão do porteiro, o cúmplice, morrendo de rir. Os três me espionavam pela câmera do elevador. E o pior é que não foi a primeira vez que me acontece.

Há cerca de uns quatro anos atrás trabalhei para uma Associação que ficava num prédio alto na rua da Bahia, pertinho da praça Afonso Arinos, com elevador e uma discreta camerazinha. Todos os porteiros me olhavam ironicamente, meio que rindo. Ainda por cima eu só lembrava da tal da câmera no meio do meu raciocínio, com a boca aberta, mãos levantadas acima da cabeça, como se proclamasse um trecho de Hamlet. Quando eu encontrava aquele olhinho preto rindo de mim, baixava o braço e tentava fingir alguma normalidade. Por uns quatro meses eu devo ter sido a diversão da portaria. Agora, instalaram essas maravilhas nos elevadores do meu atual serviço.

Eu fico imaginando se dois elevadores já garantem horas de diversão, imagina aquelas câmeras que ficam no Centro da cidade. Imagina o que tem de estagiário da Polícia morrendo de rir do povo falando sozinho, caindo, escorregando, tropeçando e xingando a pedra. Verdadeiros Boninhos que são pagos para ficar o dia inteiro assistindo video-cassetadas. Nem precisa de televisão em casa.

quarta-feira, abril 11, 2007

Filhos de Javé

Ontem eu fui pra análise puta. Trabalho, mudança, banheiro, espelho, registro em cartório, IPTU, ex-proprietário, reforma, o escambau. Falei, falei e decidi ir tocar tambor.

Foi a melhor coisa que eu fiz. Porque no tambor você desopila física e mentalmente. Une música, cultura, exercício e controle motor. Porque além de carregar um tamborzão, tem que aprender a bater no ritmo, de preferência direitinho, cantar e ainda dançar, nem que seja um passo pra frente e outro pra trás. Parece fácil, mas não é não.

E tem o Tizumba que é um fenômeno a parte. O cara ensina, dança, improvisa, você olha e fala meu, esse cara tem muito talento. O ensaio já vem com um show embutido. Além dessa proximidade com a raiz africana que é muito importante para mim. Num determinado momento o Tizumba dançou com as gungas (latinhas com sementes e chumbinho dentro) no tornozelo e me lembrei das procissões de Congado que assistia no Barreiro e que eu achava tão bonito.

A Zélia, filha do rei do Congado do Barreiro cuidava de mim quando criança e eu adorava ir até a casa dela porque além de gatinhos, tinha um quarto onde as roupas do Congado ficavam e as cores eram maravilhosas. A casa era super simples, os pilares eram feitos de lata de óleo Salada cheias de cimento. Então a entrada da casa era toda amarela, eu achava lindo. A Zélia também tinha um irmão, o Márcio que trabalhava na oficina do meu primo. Na procissão ele saía com uma roupa branca toda enfeitada e dançava com as gungas. Provavelmente um dia iria substituir o pai como rei do Congado e por isso tinha um porte meio de príncipe. Eles todos eram meio mágicos para mim, como se tratasse de alguma monarquia perdida da uma tribo africana longínqua, tipo o Nelson Mandela, sabe?

Então o tambor do Tizumba é uma espécie de reencontro com a minha infância e com as minhas raízes negras e sertanejas. E eu acho isso lindo, muito melhor que ficar brigando com gente chata, sisuda e pão-dura que insiste em me rodear e que na verdade eu quero bem longe de mim. Olorum, xô miséria!

quinta-feira, abril 05, 2007

Admirável mundo novo

Então, meu computador do serviço morreu e, como já estava mais ou menos planejado, ganhei um laptop para trabalhar. Por enquanto ele funciona como um computador normal, ou seja, nunca saiu da minha mesa. Mas vai ser bom para viagens e tal. Bem, ele tem várias vantagens. Entre as mais legais está justamente o fato de ter memória. Meu computador antigo, pasmem, tinha 256 de não sei o quê de memória. No fundo eu não tenho muita noção do que isso significa, mas eu sei que, antigamente, se eu digitasse inconstitucionalissimamente muito rápido meu computador travava.

E como ele tem memória, acho que isso animou o meu amigo Jefferson, o moço da manutenção dos computadores, a colocar uns programinhas diferentes nele. Qual é a minha surpresa quando, no segundo dia de trabalho no computer novo, abre uma janelinha no canto inferior direito do monitor com uma notícia sobre um jogo de futebol do Figueirense. Para mim, que vivo fuçando em portal de informação para ler jornal, fez pouca diferença, mas achei interessante.

Acontece que hoje eu descobri uma coisa mais legal ainda sobre esse programinha. Ele guarda os sites que eu vou com mais freqüência e manda atualizações deles! Quer dizer, na verdade, ele só fez isso com blogs, mas já é bem interessante! Foi muito bacana quando hoje eu recebi um bilhetinho do meu computador contando que o Kenji tinha escrito alguma coisa no Talk is Cheap! (link ao lado)

Mas por que ele teria essa preferência pelos blogs? A minha suspeita é que se trate de uma ferramenta de quem? Claro, do Google e como o blogspot também é do Google, as coisas se encaixariam. E por que eu suspeito que seja uma ferramenta do Google? Porque agora tem um ícone mínimo do lado do relógio do computador que chama Google Desktop.

Se eu fosse nerde eu caçava esse tal de Google Desktop e descobriria quais são as demais possibilidades dele, que devem ser muitas. Acontece que eu não sou nerde e tenho até um pouco de preguicinha dessas coisas. Mas do recadinho eu gostei. Valeu tio Larry!


Ok, ok, eu dei uma de nerde e fui procurar saber. Bom, parece que a idéia é ter um ‘buscador interno’ que ache documentos do office, tipo do word, excel e tal. Eu não entendi para que, já que o próprio computador já tem isso, mas tudo bem. Dizem até que essas duas lombrigas coloridas aí são uma alusão à janela-logo do Windows. As cores são realmente as mesmas, mas será??

quinta-feira, março 22, 2007

Dirty Pretty Things

Então, ontem fiquei de molho em casa lendo uma revistinha da Mente e Cérebro sobre filosofia. Algo do tipo Filosofia Clássica for dummies, tem Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e Tomás de Aquino. Guardadas as devidas proporções e ressalvada a época em que os caras viviam e trabalhavam, tem muita coisa interessante. Principalmente se comparamos com a nossa realidade hoje.

O que será que nós fizemos com noções de bem, mal, do que é belo, do que é certo, de bem comum? Jogamos para o alto? Virou poeira cósmica?

Bem, ontem também assistimos o filme A Rainha do Stephen Frears. Um filme sutil, que discute temas atuais como verdade e versão, princípios e imagem, subjetividade e representação. Pena que uma coisa boa, a excelente interpretação da protagonista Helen Mirren, como a Rainha Elisabeth II, eclipsou o filme como um todo.

Uma coisa que chamou muito a minha atenção foi a constante presença de imagens da Diana no filme que vão ficando, no decorrer da narrativa, cada vez mais fantasmagóricas. E o que são imagens além disso? Representações do real, fantasmas. Umas das últimas aparições da Diana (o filme mistura filmagens com cenas de arquivo todo o tempo) - quando a crise já está instalada - é um olhar dela, Diana, para a câmera, como quem diz: e aí? O que você vai fazer comigo? Pareceu um filme de terror nessa hora.

E não tem nada dessa história de ‘ah, vamos mostrar a face humana da rainha’. O filme usa um episódio da história, uma situação factível, para questionar a nossa própria percepção do que é real (nos dois sentidos) e o que não é. Questionar o que são celebridades (aliás um outro filme que também toca nessa questão, e se utiliza de uma figura palaciana, é o Maria Antonieta da Sofia Copola, mas isso é outra história), o que é imagem, o que nós seres sociais desejamos e cobramos delas. Porque, se você parar para pensar, quem era a Diana? Quem e o que a matou? Quem é a Rainha Elisabeth? Quem e o que a mantém lá no trono até hoje? Não seriam as mesmas situações e as mesmas pessoas?

Aí vem o Stephen Frears e põe a gente pra pensar.


Até o cartaz já diz tudo

terça-feira, março 20, 2007

Efeito Colateral ou a via crucis do aciclovir

Como diz o Kenji, quando vem, vem junto, então hoje eu descobri que a minha herpes labial voltou. Ou seja, além de 10 dias sem beber serão, pelo menos, 3 sem beijar. Férias é isso aí!

Ainda tive a via-crucis do aciclovir. Como eu estava na dúvida resolvi ir a uma farmácia, nesse solão, confirmar com o farmacêutico se era mesmo herpes. Tudo bem, saí de casa 13h15 e fui primeiro na Drogaria Araújo do Gutierrez, cheguei por volta de 13h30. Lá eu descobri que hoje é o dia da Reunião-Geral-dos-Farmacêuticos-da-Drogaria-Araújo. Beleza, tentei, então a DrogaRaia, que fica em frente, e descobri que lá sempre ficam duas farmacêuticas, que fazem questão de almoçar no mesmo horário, ou seja, qualquer uma delas só depois de 14 horas. Tudo bem, sem pressa, tô de férias mesmo, no stress.

Vou eu andar, nesse solão, mais dois quarteirões para chegar na Drogaria Trade. Tem farmacêutico? Tem. Está em horário de almoço? Está. Volta às 14 horas? Por aí. Isso já são 13h45. Beleza, vou para a papelaria do lado e fico 15 minutos olhando papel. Às 14 horas chega a farmacêutica e vai trocar de roupa. 14h15 ela volta, exatamente com a mesma roupa que chegou e um jaleco branco por cima. Tudo bem, sem pressa, tô de férias mesmo, no stress.

Aí eu viro para ela:

- Acordei com uma feridinha na boca, mas tô na dúvida se é herp....

- É.

Na verdade, antes do ‘é’ ela ainda apertou os olhinhos por uns três centésimos de segundo fazendo uma profunda análise da minha ferida na boca. Essa praticamente consulta à farmacêutica deve ter durado, no máximo, 2 segundos. Até porque antes de eu agradecer e falar ‘ah, então a melhor pomada é aciclovir, né?’ Ela já estava do outro lado da loja.

Então eu me dirijo à vendedora da farmácia e peço uma pomada aciclovir ou zovirax, ‘o que estiver mais em conta’ como de costume. Ela simplesmente não tem. Pelo menos eu já tenho a confirmação do ‘diagnóstico’. Volto andando, nesse solão, para a Drogaria Araújo. Nisso já devia ser quase 14h30. Cheguei em casa de novo um pouco antes de três da tarde. Mais de uma hora e meia depois de pensar ‘ah vai ser mais rápido eu ir à farmácia e confirmar minha suspeita. Sem contar que tudo bem, sem pressa, tô de férias mesmo, no stress.

Rá...Rá...Rá...

segunda-feira, março 19, 2007

Vivre sa vie

Essa semana eu estou de férias! O que é muito bom para tirar alguns atrasos. Hoje mesmo fui ao médico e descobri que estou com sinusite. Na verdade eu já devia estar há algum tempo, mas como não ia ao médico, só descobri agora. O duro é ficar 10 dias sem beber, por causa do antibiótico, e ainda ter que pagar por isso! Pelo menos hoje nós temos os espetaculares genéricos! Só a caixinha de antibiótico que custa 74 reais acabou saindo por módicas 52 pratas. A soma toda, incluindo antialérgicos, foi menos de 63 reais, ou seja, mais barato que o antibiótico original.

Outra dica, quando você pressentir que os remedinhos não serão baratinhos, é pedir na Unifar (3339-2900). Eu não sei porquê, mas eles vendem os remédios com 20% de desconto e entregam em casa (sem taxa!) e ainda agendam o horário. Tipo, eu poderia receber o remédio na parte da manhã de 8h às 10h ou de 10h às 12h30. Não é muito fino? Deus salve as farmácias populares.

Também vou aproveitar essa semana para ler mais e quem sabe até cozinhar. De vez em quando um tempo à toa na sua própria cidade é bom para aproveitar promoções, comprar verdura fresca, visitar exposições. No mínimo a programação do Palácio das Artes “Encontro Marcado com Fernando Sabino” eu quero acompanhar. Vocês sabiam, caros leitores, que o Fernando Sabino foi meu primeiro grande herói?

Só não pretendo ir ao cinema porque o Kenji descobriu os prazeres do ‘vamos baixar o filme na internet’. Já vimos vários assim e eu estou adorando, até porque combina com a minha fase de absoluta austeridade fiscal.

O que me lembra um outro atraso que pretendo tirar nessas micro-férias: ir ao banco, contar as moedinhas, conversar com a gerente sobre como pagar menos tudo (taxas, cpmf, anuidades). Ir ao banco e conversar quase sempre é sinônimo de economia. Minha última descoberta foi que a Caixa, por exemplo, tem dois tipos de conta: a conta corrente e a conta poupança. Para quem não pretende usar o talão de cheques da Caixa (meu caso) a diferença entre a primeira e a segunda é que você não paga taxa nenhuma na conta poupança e ela ainda pode render alguma coisa. Depois que soube disso mudei imediatamente para conta poupança e economizei quase 20 reais por mês, ou 240 reais por ano. Isso sem fazer esforço nenhum e já dá para comprar pelo menos uns cinco livros muito bons!


Férias em BH é isso aí...

segunda-feira, março 12, 2007

O Processo

Algumas lições da semana

Pare de fumar, esse negócio faz mal para a saúde.
Faça, sempre, todos os exames.
Se você é homem apenas ouça o que a sua garota tem a dizer, na maioria das vezes é o suficiente.
Corte as garras dos seus gatos.
Confira os vazamentos, os canos e o tamanho das janelas.
Indicações podem ser tão boas quanto um mapa.
Sobrar é sempre melhor que faltar.

O mais importante de tudo: consulte um especialista antes de tomar qualquer atitude na vida. Dê preferência aos especialistas amigos.




O Encontro Marcado

Parabéns à Cíntia e ao Murilo que hoje têm muito mais que um projeto, um sonho, um ideal: têm o Max nas mãos!

segunda-feira, março 05, 2007

Minority Report

Como diria o Itamar Assumpção, venha até São Paulo relaxar, ficar relax. Foi o que fizemos, eu e Kenji. Cinco dias de pernas pro ar na minha terrinha.

A casa do Melk e da Renata é uma espécie de Pasárgada da gaita, da música, dos furões e da comida vegetariana. Eu adorei cada minuto que ficamos lá.

O festival no SESC, como sempre, foi excelente, não apenas pelas atrações, mas principalmente pelos amigos. Melhor ainda quando os amigos são as atrações, como esse ano. A Mari tocou e cantou, o Eisenger arrebentou com o trio gaita, violão e percussão e eu gostei muito, muito mesmo da apresentação do Vítor Lopes.

Também conhecemos a fábrica da Bends que fica em Ribeirão Pires, uma pequena e pacata cidade pertinho de Sampa. O Valdecir estava lá e me pareceu feliz, o que me deixou feliz também. Essa galera que dedica a vida a um instrumento, nesse caso a gaita, merece ser reconhecida.

Acho que a Bends tem tudo para dar certo e torço por isso porque o pessoal tem se esforçado um bocado para que as coisas aconteçam da maneira certa. Eu respeito pra caramba essa dedicação porque estou convencida que a perfeição só existe no campo do ideal, nada no mundo prático é perfeito, até porque a sua definição varia de cabeça para cabeça. Agora, desejar e atuar na realidade de maneira ética e responsável para alcançar o melhor resultado possível já são outros quinhentos. Acho que o pessoal da Bends tem feito isso o que já me parece bastante louvável e meio caminho andado para alcançar o objetivo.

A gente também visitou o abrigo para crianças que o pai da Renata mantém em Ribeirão Pires e foi muito legal. A meninada é linda, saudável e cheia de energia para brincar. Quem for conhecer a fábrica não deveria perder a oportunidade de ir ao abrigo também.

Enfim, conhecemos mais gaitistas e fizemos novos amigos. Como sempre.

Para fechar com chave de ouro ainda ganhamos, no show do Carlini na Livraria da Esquina, um pingüim gaitista da Beth. Eu nunca teria imaginado um presente melhor.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

domingo, fevereiro 18, 2007

Se meu apartamento falasse

Senhoras e Senhores,

Eu tenho a honra de informá-los que o contrato foi assinado. Em breve as gatas estarão de casa nova. E própria.

Que os anjos e a Caixa Econômica Federal digam amém. :-)

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Brazil, o filme

Você sabia que o Código de Processo Civil está passando por uma reforma que começou em 2001 e culminou na aprovação de uma lei que muda quase tudo em dezembro do ano passado? Eu também não, até uns três dias atrás.
E você sabia que isso significa que qualquer processinho que você tenha que entrar na justiça tem regras totalmente novas? Incluindo comprar um imóvel, divorciar-se ou receber alguma indenização? Sabia?

E que o governador de São Paulo José Serra vetou um projeto de lei de Redução de Danos? E o prefeito da cidade de São Paulo Gilberto Kassab vetou um outro que pune a discriminação por orientação sexual na capital paulista? Alguém te contou?

E sabe quem não contou nada disso para ninguém? A mesma imprensa que nos anestesia diariamente com imagens cada dia mais chocantes de violência, com a exploração inclemente da desgraça alheia e com um repertório inacabável de desinformação, seja pelo meio impresso ou eletrônico.

Aproveito para recomendar fortemente que você entre no link ao lado do VotoLula. O Ric, tio da Clarice, seleciona e comenta notícias bastante interessantes da nossa política nacional. Aliás deveríamos renomear o site para Blog do Ric, porque pelo menos essa colaboradora está deixando muito a desejar.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Em nome de Deus ou
A diferença entre o crédulo, o fiel, o ateu, o cético, o agnóstico e o incrédulo

O crédulo é aquele que acredita, que contém a chama da crença seja no que for, Deus, homens, ciência, igualde, família. Ele crê e aquilo o ajuda de alguma forma a acordar de manhã.

O fiel é o crédulo em Deus. Nem todo crédulo é fiel, mas todo fiel é crédulo. Não confundi-lo com o religioso, porque entre esses muitos são incrédulos, não vale a pena nem classificar os religiosos pois aqui estamos falando de fé.

O ateu é o crédulo na não existência divina. O ateu não só acredita que deus não existe como ele quer convencer a humanidade que de acordo com a realidade objetiva não é possível a existência de um Deus. Como se a fé em Deus tivesse alguma coisa relacionada com a realidade objetiva ou mesmo com a existência dele.

O cético não acredita em nada antes de obter alguma comprovação objetiva. O cético só não é um incrédulo porque pode ter a sorte de acreditar em alguma outra coisa. Ou seja, podem existir céticos crédulos, mas são poucos, e procuram validar de alguma forma sua fé, seja através da ciência, do idealismo, até do romantismo.

Agnóstico é o apelido do cético quando estamos falando na crença em Deus. Ele não crê na existência divina, nem na sua não existência. Como o ateu, ele não consegue conciliar a idéia de um Deus com suas observações do mundo real, porém, diferentemente do ateu, tem a necessária humildade para concordar que as suas observações podem não captar todas as respostas do universo. Outra diferença essencial entre o agnóstico e o ateu é a falta de ânimo, de prazer e de argumentos para longos debates com os fiéis sobre o tema, ânimo, prazer e argumentos que sobram entre os ateus.

O incrédulo, bem, o incrédulo não acredita, ele perdeu a fé. Costuma ser uma figura cabisbaixa, deprimida, tristinha. Ou pior, o incrédulo pode tornar-se cínico, cruel e imoral, porque se nada tem jeito, porque ele teria?

Onde você se classifica? Como anda a sua fé?

Eu, por exemplo, não passo de uma agnóstica, portanto cética, insossa e pouco crédula.


Thomas Henry Huxley

terça-feira, fevereiro 06, 2007

A Chorus Line

Ontem recomeçaram as aulas de pandeiro. Nesse ano de 2007, começo a ensaiar em outro pandeiro, do luthier Fernando, aqui de Belo Horizonte. Trata-se de um pandeiro com o diâmetro maior, 10 polegadas, por isso mais grave, com acabamento bem melhor do que eu usava anteriormente. Na verdade eu já tenho esse pandeiro desde setembro, acontece que ele é mais pesado que o primeiro, então protelei até agora para tocá-lo. Mas depois que você pega um instrumento bom, principalmente com um som mais bonito, não quer soltar nunca mais. Agora preciso é me acostumar com ele e adquirir resistência.

Uma das coisas mais certas que o Caetano Veloso escreveu na vida dele foi "como é bom poder tocar um instrumento".

Costura Da Vida
Tambolelê. Composição: Sérgio Pererê

Eu tentei compreender
A costura da vida
Me enrolei pois
A linha era muito comprida

Mas como é que eu vou fazer
Para desenrolar
Para desenrolar

Se na linha do céu sou estrela
Na linha da terra sou rei
Na linha das águas
Sou triste
Pelo fogo que um dia apaguei

Na linha do céu sou estrela
Na linha da terra sou rei
Mas na linha do fogo
Sou triste
Pelos mares que não naveguei

Mas como é que eu vou fazer
Para desenrolar
Para desenrolar



Update do post anterior: o Kenji já comprou os adesivos de reciclagem, vamos aproveitar (muito ecologicamente) uns baldes de plástico do Royal Canin que estavam lá em casa sem uso. Reciclagem djá!

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Day After

Ontem apagamos a a chave geral do apartamento às 19h55. Na verdade poderíamos ter ligado às 20h, mas só o fizemos às 20h40. Foi uma forma de participar do movimento 5 minutos pela Terra, organizado por um grupo de ambientalistas franceses, a Aliança pelo Planeta. No Brasil a repercussão foi ínfima, até que na França eles conseguiram alguma divulgação. Fizemos, porém, mais pela proposta em si do que por resultados objetivos. A questão é que se não começamos a participar, esse tipo de ação não irá nunca alcançar resultados.
A partir da semana que vem, também começaremos a reciclar lixo. Mesmo tendo que sair de casa para entregar o lixo reciclável em postos de coleta. Incrível, mas no Gutierrez não tem coleta seletiva da prefeitura.
Acho que já é um começo.

terça-feira, janeiro 30, 2007

O maior espetáculo da terra

A coisa mais legal do lançamento do CD do Gaita-l é a sua premissa. Ela não está escrita em nenhum papel, ninguém a solicita verbalmente, acho até que a maioria da galera a adota sem nem perceber. Mas ela sempre está presente.

Essa premissa é o desprendimento.

Desprendimento de tudo: de medos, de preconceitos, de ambições, de dúvidas.
Porque no lançamento do CD do Gaita-l não existe medo de palco, não existe lugar bom ou ruim - seja para dormir, seja para tocar - ninguém quer ganhar nada, não tem estilo musical pré-definido, não tem regra e não tem frescura. Aí o povo que vem pela primeira vez fica com aquela cara de deslumbrado, de "como pode continuar sendo tão bom".
E a única resposta é que a premissa continua valendo.
Porque quando ninguém está preso, seja a convenções, seja às suas regrinhas internas, seja à timidez, as coisas acontecem de forma genuína.
E cada coisa, por menor que seja, que cada um faz, fica enorme, porque não havia expectativa alguma, muito menos cobrança.
Manter o desprendimento e a genuinidade tanto do CD como dos lançamentos foi a melhor estratégia para fazer com que cada um deles, seja em BH, em Santos ou no Rio, fosse único.
E essa grande sacada, se foi espertamente implementada pelo Kenji, contou com a colaboração de todo mundo, absolutamente todo mundo, que algum dia já participou de algum CD ou lançamento, para funcionar. Por isso que essas pessoas são tão bacanas e fazem esses encontros momentos tão especiais.
Espero que as coisas continuem assim e tenho certeza que continuarão.
Amém.


Alguns gaitistas presentes em BH esse fim de semana

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Gattaca

Ontem tive um insight: deve existir uma explicação genética para a escolha de alguns indivíduos pelo socialismo.

Explico-me. Quanto mais eu leio, mais me convenço que o capitalismo é o sistema hegemônico no mundo exatamente porque ele é o que melhor se encaixa nas características gerais da humanidade.
Porque vejamos, enquanto o socialismo (aos liberais de plantão aviso de antemão que estou falando do socialismo ideal, e não das experiências vividas em alguns países como a Rússia, muito menos a China) almeja uma sociedade com valores mais fraternos, (igualdade, fraternidade, desprendimento, altruísmo), o capitalismo suporta bem valores, digamos, mais individualistas como a ambição, o poder, a violência, a vingança. E o fato é que para a maioria dos mortais isso está ok. Isso acontece, provavelmente, porque a sociedade é formada por pessoas ambiciosas, violentas, vingativas e com sede de poder em uma proporção que permite ao grupo em geral, aceitar essas situações e conceitos com naturalidade. Estou, evidentemente longe de dizer que todos os membros das sociedades capitalistas são ambiciosos, violentos, vingativos e têm sede de poder, teorizo, apenas, que o contato com essas características no cotidiano, nas relações subjetivas, permite que elas sejam aceitáveis no âmbito macro.

O que a genética tem com isso? Chegarei lá.

De acordo com esse raciocínio, o socialismo teria alguma chance de existência se a maioria dos integrantes de uma sociedade percebesse em sua volta, nas suas relações cotidianas uma tendência à adoção destes valores altruísticos já citados. Essa possibilidade, aqui entre nós, é bem remota.
Sendo assim, o que faria alguns indivíduos da nossa sociedade insistirem tanto na construção de uma sociedade igualitária? O que motiva esses seres a indignar-se e ruborizar diante das injustiças do mundo desde a fome, a subnutrição infantil, a guerra, a ditadura, até a destruição do ecossistema, a circuncisão feminina ou mesmo a extinção do rinoceronte branco de um chifre só? E principalmente, o que faz com que esse grupo de seres humanos acredite na tendência da sociedade em adotar seus valores?
Vamos às suas características, i. eles são minoria absoluta no mundo, ii. em algumas regiões do planeta, entretanto, é possível observar aglomerações destes indivíduos, iii. muitas vezes são vários membros em uma única família, iii. argumentos, pressões e até tortura habitualmente não conseguem dissuadi-los de seus pensamentos, o que pode demonstrar que se trata de uma coisa intrínseca ao ser, e não apenas racional iv. a idade também parece não influenciar na condição específica.

A reposta pode, perfeitamente, ser um gene. O gene da utopia social. Não há pesquisas que apontam para o gene da crença religiosa? Poderia até ser uma mutação, o gene da crença na sociedade. Podem surgir, inclusive, especulações sobre a origem do gene. Talvez Russeau, ou mesmo Marx. Não é má idéia para pesquisa. Fica a sugestão para os amigos biólogos.

(post inspirado no artigo "Sejamos Lógicos" do economista Antônio Delfim Netto, publicado no Valor Econômico de ontem - 23/01 e provavelmente pela falta do Chico Lobo que foi para a Alemanha e agora não tenho com quem dividir teorias esdrúxulas)


Eduardo Galeano é um espécime a ser estudado para comprovar, ou não, minha teoria

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Conte Comigo

O importante nesse mundo é ter amigos. Quinta agora precisava contratar um jornalista no Rio de um dia para o outro. Na mesa do boteco, a Bárbara deu dois telefonemas e estamos aí com o jornalista. Na sexta, precisei de um fotógrafo para aquela hora exata. Vem o Beto e salva o dia. Hoje não sabia exportar imagens de um arquivo Corel e o Marcelo me ensinou. Quem tem amigo tem tudo.
E não estou falando dessa história de networking. Meus amigos são meus amigos, se eles quebram galhos de vez em quando ótimo, mas eu gosto deles por milhões de motivos diversos, além deste. Esse negócio de networking me dá uma certa coceira porque parece coisa de quem não tem vida pessoal, só profissional. Sabe esse povo que come, dorme, lancha, sonha e trepa pensando no futuro profissional, nas realizações e afins? Esse tipo de gente é que constrói uma networking. Gente como eu simplesmente recorre aos meus amigos e tudo bem.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

A Roda da Fortuna

Esse ano de 2007 terei que fazer uma coisa que nunca fiz na vida. Um planejamento financeiro. Vou colocar minhas despesas fixas no papel, saber quanto sobra, quanto pretendo guardar e o que eu vou priorizar de gasto. Quer dizer, como vou investir, financeiramente, em mim como pessoa humana individual e subjetiva, sabe como?
Lembrei da Luana, minha irmã, aos três aninhos. Quando perguntávamos o que ela seria quando crescesse, ela respondia:
- Pessoa!

Mal sabia ela, mal sabia eu, que o tal de virar "pessoa" é um processo e dos mais complexos. Fato é que feliz ou infelizmente, o ser humano é um bicho pra lá de complicado e mesmo passando pelo mesmo processo que todo ser vivo - nascer, crescer, amadurecer, procriar e morrer - adora meter (ato falho?) dúvidas, desejos, traumas, angústias e ansiedades nos entremeios de cada etapa.
Inveja da simplicidade dos cnidários.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Programão

Como a cidade está mesmo vazia e as opções culturais são quase nulas, me atrevo a dizer que o melhor programa do mês de janeiro em Beagá será:



Festa de Lançamento do CD Gaita-List
Data: 26 de janeiro de 2007, Sexta-feira
Horário: a partir das 20h
Local: Pau e Pedra
Av. Getúlio Vargas 489, Funcionários
Belo Horizonte / MG
Tel (31) 3284-2397

Maiores detalhes, aqui

segunda-feira, janeiro 15, 2007

FINDI

Um fim de semana pode ser (as possibilidades nesse caso são infindáveis) ranquiado de acordo com três medições:
os produtos culturais consumidos
o número de pessoas que você interagiu (1 ponto para as conhecidas, 2 pontos para novos contatos)
a quantidade de doses etílicas ingeridas

Dentro dessa perspectiva posso dizer que o fim de semana foi bem positivo.
O primeiro quesito foi o mais prejudicado, o que se explica pela priorização dos itens subjacentes. Sem contar que a leitura da (revista) Cult, com um dossiê sobre mito e verdade na tragédia grega é pouco, mas já é bom.
A interação foi o ponto alto nos dois dias. Tanto com os bons amigos, daqueles que você fica se perguntando incessantemente porque encontra tão pouco, como com figurinhas novas, agradabilíssimas, divertidas, daquelas que você fica se perguntando incessantemente como não as conheceu antes. Sem contar aquela terceira categoria de boas pessoas que você encontrou uma ou duas vezes, ainda não pode chamar de amiga, mas tem uma clara inclinação para tornar-se.
O terceiro ponto do ranque coroa o segundo e facilita a fluência e as risadas. A única desvantagem é que transforma a manhã de domingo em um suplício de dor de cabeça e fotofobia, mas passa. Que venga el próximo findi.

domingo, janeiro 14, 2007

MIGO

"Li hoje, embasbacado, o lamento do velho Frieiro. Leia comigo as palavras dele: tomei uma decisão suicida. Resolvi queimar e queimei ontem, chorando, meu velho diário. Vinte e dois cadernos, quatro mil páginas manuscritas cobrindo dez anos de escrita confessional e memorialística. Nelas relatava, minucioso, a vida cotidiana e as futricas provincianas de Belo Horizonte. Noêmia e eu, queimando os cadernos, chorávamos aos prantos:
- Era sua obra-prima, bem - me dizia ela.
Lendo esse lamento, decidi escrever, eu também, meus vinte e dois cadernos. Não para queimar - c'ê besta! -. Mas para me expressar e guardar. Quem sabe, publicar. Para isso se escreve."



Darcy Ribeiro - 1988