terça-feira, setembro 28, 2010

Não dá

Não, não dá para passar batido.

Hoje, dia 28 de setembro, é o dia pela Descriminalização do aborto na América e Caribe.

E eu acho que todas as mulheres devem se manifestar de alguma forma.

Porque o controle do próprio corpo diz respeito a todas nós.

Porque a criminalização de um ato tão íntimo como a interrupção de uma gravidez é uma violência, uma agressão, já no seu conceito.

Porque se trata de um "crime" que apenas um dos responsáveis é punido.
(Alguém já parou para pensar que um homem dificilmente será preso por ter tido um filho abortado? Mesmo sendo também responsável pela gravidez e
muitas vezes o financiador do aborto?)

Porque essa mesma criminalização desrespeita a laicidade do Estado Democrático de Direito.

Porque ninguém é a favor do aborto e ninguém tem o direito de dizer quando ele é necessário, ou não, além da mulher que pretende enfrentá-lo.

Porque aqueles que, com ou sem motivações religiosas, discordarem, sempre terão a opção de dar segmento à gestação.

Porque a vida, a dignidade, e a saúde de uma mulher (que muitas vezes já é mãe e opta por não ter mais filhos para garantir a sobrevivência dos que ela já tem), são muito mais importantes do que discussões abstratas sobre o que é vida ou qual o exato momento do seu surgimento.

Enfim, porque legalizar o aborto é garantir às mulheres direitos fundamentais como o da dignidade e o da intimidade tão caros aos nossos legisladores mas que ainda se encontram no rol de privilégios do gênero masculino.

Para complementar, um ótimo post sobre o assunto.

segunda-feira, setembro 27, 2010

No susto


Acabei de surrupiar do Marcelo Belico a gracinha acima. Por que? Porque é livro, porque é lindo e porque eu e Teresa merecemos. Saiba mais

quarta-feira, setembro 22, 2010

Conto Africano




Devidamente lido para Teresa uma noite dessas. É mais ou menos assim:

A história da GATA ou como os gatos se tornaram domésticos
(vejam bem, ninguém disse que eles foram domesticados...)

Era uma vez uma gata selvagem que cansou de ser sozinha. Aí ela encontrou um gato selvagem e pensou: esse gato selvagem é o animal mais bacana da floresta! E foi viver com ele.

Num belo dia, um leopardo apareceu e deu um surra no gato selvagem. A gata pensou: oh, o leopardo é o animal mais incrível da selva! E trocou de parceiro.

Evidentemente, em outro dia, apareceu o leão e a história se repetiu. E depois do leão, veio o elefante, que pisou na cabeça do rei das selvas, e passou a ser o querido da gata.

Numa manhã ensolarada, a gata que ronronava na orelha do elefante, ouve um estrondo e vê o elefante tombar no chão. Tentando entender o que havia acontecido, encontra o homem e sua espingarda. Mais uma vez, a gata pensa: está aí o animal mais admirável da floresta e o segue até sua aldeia. Chegando lá, deita na palha que serve de telhado para a choupana do homem e fica por lá caçando os ratos da redondeza.

O tempo passa e quando tudo parece bem, a gata ouve uma gritaria na casa do homem. São as vozes do homem e sua mulher. Em seguida, o homem sai da choupana e cai estendido na terra.

'Finalmente! Encontrei o animal mais incrível da natureza: a mulher'. Assim, a gata entra na casa, aninha-se próximo ao fogareiro e nunca mais vai embora.

sexta-feira, setembro 10, 2010

Desmame - como fazer

Para encerrar o assunto, acho que vale a pena deixar uma dica sobre como desmamar sem sofrer com leite empedrado no peito para aquelas que desmamarão um dia. Essa informação, infelizmente, não encontrei em lugar algum e só depois de ligar para a minha ginecologista que a coisa melhorou.

Bom, primeiro os fatos. Mesmo amamentando com um peito só, eu ainda produzia uma quantidade de leite boa quando decidi desmamar a Teresa definitivamente. A pediatra havia sugerido, meio por alto, que eu deveria parar de uma vez, enfaixar o peito e colocar compressa fria (gelo) para diminuir a produção do leite.

Eu entendi que apenas a compressa fria estava relacionada com a produção de leite e deduzi que a faixa seria apenas para diminuir o acesso do bebê ao peito. Como a Teresa não ligou muito, eu pulei a parte da faixa e fiquei só com a compressa fria. Erro um. Também fui orientada a não ordenhar o leite que fosse produzido porque é o leite 'parado' no peito que inibe a produção de mais. Segui essa orientação à risca e esse foi o meu segundo erro.

O que aconteceu foi que o meu peito lotou de leite, empedrou e eu fiquei uns três dias morrendo de dor. Além do desconforto de ter a nítida sensação que a mama havia sido substituída por uma prótese de concreto, qualquer coisa que encostasse nela me fazia gritar de dor. Pensei até em tomar uns remédios para suprimir a produção de leite e liguei para minha ginecologista. Essa foi a salvação da lavoura.

Ela me explicou que as compressas frias eram boas mas não seriam o suficiente (até porque não dá para ficar o dia inteiro com gelo no peito em dia de expediente, né?), que deveria esvaziar o meu peito (porque muito da dor era causada pelo leite parado), e enfaixar, para dar sustenção ao peito e inibir a produção (sim, a faixa também ajuda nesse processo. Arrá!). Como o meu peito ainda doía muito, tomei um banho quente (a água quente ajuda na circulação da mama e por isso 'amolece' o leite
empedrado e facilita horrores na hora da ordenha), tirei o máximo de leite que consegui, enfaixei as mamas bem firmes e ainda coloquei um bustiê para dar mais sustentação.

Aí foi batata. A dor diminuiu e o peito realmente não voltou a produzir aquela quantidade de leite. Por isso, mamães, a minha dica na hora de desmamar é:

Amamente pela última vez. Com o peito vazio enfaixe firme. Quando sentir o peso do leite, utilize a compressa de gelo para ajudar. Se começar a pesar muito e empedrar, ordenhe. Realmente, o leite 'parado' diminui a produção, mas também causa dor. Então, não sofra sem necessidade, retire o leite que está incomodando. A faixa e a compressa vão diminuir a quantidade naturalmente.


É super simples e se eu tivesse feito dessa forma desde o início teria me poupado de
um bocado de dor. Portanto, fica a dica. :-)

quarta-feira, setembro 08, 2010

Desmame

Eu queria começar esse texto com um ponto. Assim: .
Uma coisa meio Clarice Lispector, sabe?
Porque é o que estou sentindo nesse momento. Um ponto final no meio do peito, com o alívio e a melancolia que isso traz.
A sensação de missão cumprida, de liberdade e a certeza que funcionou ajudam.
A Teresa não demonstrou falta alguma, está ótima e eu respiro aliviada.
Mamãe, mamãe não chore, a vida é assim mesmo eu quero mesmo é isto aqui.

O resto é comigo. Porque agora, que acabou, eu digo.
Ainda estou machucada, enfaixada, sentida. Não pretendo mentir nem esconder.
Mas a vida é assim. Aprende, mamãe.
Aprende a conviver com esse sentimento tresloucado que envolve um orgulho imenso e essa saudadezinha safada daquilo que não volta.

Aí eu penso no quanto a gente é instinto, bicho. Toda mãe é meio vaca, meio galinha. No sentido bacana mesmo, de ter peito (no sentido literal ou não) para nutrir e asa para agasalhar. Só que aí me lembro de que a gente também não pode ser só instinto, só vaca ou só galinha. Temos que ir além, respirar e deixar crescer, entregar para o mundo, com limites e valores. E isso demanda racionalidade, estudo, exercício.

Dizer que é fácil não dá, mas enriquece. Eu acho. Mesmo em dias como esse, que mesmo pais, ficamos menores que nossos filhos.