quinta-feira, junho 15, 2006

Ao mestre, com carinho

Alguns escritores específicos, com sua literatura, mudaram minha vida. Formei meus valores, alarguei meu pensamento, encontrei caminhos - que ainda sigo - em seus livros. Muitas vezes busquei até consolo, afago, em momentos difíceis de dor, ou inspiração para viradas, revoluções internas - e eu sempre encontrei. A eles, e as suas obras, dedico carinho e respeito imensos.

Pouquíssimos, entretanto, me ensinaram, o que quer que seja, pessoalmente.
Pouquíssimos, me deram além de seus textos, ensinamentos com o calor do hálito, sentados em um sofá baixo de uma quase redação.

Entre esses pouquíssimos está o Wander Pirolli.

Há menos de um mês o Wander morreu. É, morreu, pronto e acabou. Não o ofenderia com eufemismos. Uma coisa que ele me ensinou foi a não dourar a pílula. Ele nunca dourou. Como editor de polícia, como jornalista, como escritor, a lente dos olhos do Wander era cristalina. Adorava uma realidade nua e crua. Porém no papel, a verdade era enriquecida com sua ironia fina e aquela coerência, típica dos malucos, beberrões - de cachaça - e insones.

Em entrevista ao Felicíssimo ele dizia jornal só de notícias boas, isso não existe. Não é jornal, jornal se alimenta de desgraça, de dor. Isso aí não é jornal. Depois ria e tragava o Hollywood. Sempre colaborou para aquele não-jornal. Sempre freqüentou a nossa quase redação.

Pelo menos, ele ainda está aí. O papel. Leia-o. Principalmente se nunca o fez antes. Leia Wander Pirolli e compreenda, se for capaz, o que eu, e aqueles tiveram a minha sorte, sentimos agora.

quarta-feira, maio 17, 2006

Asas do Desejo

Algumas coisas nunca mudam. É mesmo. Outras coisas, entretanto, já passaram da hora de mudar.
Coisas que parecem imutáveis, intocáveis, intrinsecas à nossa realidade, elas podem mudar. Elas devem. Elas precisam.
Porque muitos repetem que algumas coisas nunca mudam e assim elas se perpetuam e mudá-las fica cada dia mais difícil.
E cada dia fica mais fácil para aqueles que não ganham com a mudança convencer aos demais que algumas coisas nunca mudam.
E quando alguém se permite convencer, a mudança fica mais distante e aquelas coisas, que nunca vão mudar, ganham força e ainda fortalecem aqueles que querem e podem tudo, menos que as coisas mudem.
Fato é que algumas coisas nunca mudam. E não vão mudar. Uma delas é que ainda tem gente que acredita na mudança.

http://votolula.blogspot.com/


quarta-feira, maio 03, 2006

O petróleo é deles

Um pouquinho de utopia e desbunde não faz mal a ninguém.

Sandina
Replicantes

Sábado todo, eu chorei de mágoa
Minha garota foi pra Manágua
Lutar pela revolução
Lutar pela revolução
Todo mundo vai embora
Todo mundo tem sua hora
Ela me deixou, me trocou
Por um sandinista especialista em granada de mão


domingo, março 26, 2006

Blackmail - cena 1


Ludmila está sentada no banquinho do banheiro esperando uma pausa no rock farofa para voltar para a pista.
Entram 2 mocinhos.
Mocinho 1 fecha as pernas e faz cara de 'tô apertado'.
Mocinho 2: Vai naquele.
Mocinho 1: Não tem porta...
Lud pro mocinho 1: Vai naquele que ele (apontando para o mocinho 2) vigia pra você.
Mocinho 1 pro mocinho 2: Você vigia pra mim?
Mocinho 2: Vigio.
Mocinho 1 e Mocinho 2 vão para trás da Ludmila que felizmente estava de costas para a privada sem porta.
Mocinho 1 vai embora com o mocinho 2 mas antes agradece pela ajuda.
Dois segundos depois volta o Mocinho 1:
- Minha roupa tá muito clara para esse lugar? Ele estava com uma calça jeans e uma camiseta branca com detalhes azuis.
- Não pergunte isso para mim, digo e sorrio. Na verdade todas, mas absolutamente todas as pessoas do blackmail estavam de preto ou jeans. Menos eu que, inacreditavelmente, estava com uma roupa absolutamente clara.
Ele sorri: "Ah! você tava na Joy também?
Respondi que não com a cabeça e ele continuou:
- Lá tava péssimo! Aí eu vim pra cá, já agarrei dois! Acredita menina?
- Uau, que sucesso! E eu aqui sentada nesse banquinho!
Ele gargalhou e foi embora, agarrar mais.
A mocinha que estava no banquinho ao lado do meu, provavelmente descansando ou esperando o banheiro vagar, me olhou e concluiu:
- E a gente ainda tem que ouvir isso.

segunda-feira, março 13, 2006

dia 20 - a véspera

Dia de viagem. Virei pra nossa amiga da limpeza e disse: não estarei em casa esse fim de semana. O que estiver na geladeira e for perder, joga fora, leva pra casa, mas não deixa aqui não. Cheguei em casa à noite e a geladeira nunca esteve tão limpa. Restaram as caixinhas de nuggets no congelador e um litro de leite recém aberto. Acho que a minha amiga tem intolerânia a lactose. O Almindo recomendou e comprei aquelas almofadinhas infláveis para o pescoço. Não é que o negócio funciona?

dia 21 - Primeiro dia de Bienal

Chegamos em sete horas. Mas Sampa é Sampa. Seis horas da matina a padaria, na esquina da casa da Clara, já estava aberta.
O caminho para o Anhembi foi tortuoso. Tudo errado. Mas a feira estava fantástica.
Um milhão de livros, pernas pra que te quero, empolgação absoluta. Percorremos apenas um terço da feira.
Assisti uma palestra sobre 'o papel da mídia para incentivar a leitura'. Péssima.
A conclusão nada surpreendente: se aquela é a mídia que incentiva a leitura, não está ajudando em nada.
À noite fomos, já exaustos, assistir um show da Jazz Sinfônica. Homenagem a Astor Piazzola. Não poderia ser melhor. De graça, no Memorial da América Latina, auditório maior e mais novo que o Palácio das Artes. A união entre orquestra e big band. Na última música o cara da percussão tocou um pandeiro honesto.
Totoro, você tinha que ver.
Uma outra figura lá (esqueci o nome do moço) tocou maravilhosamente o acordeom (ou acordeão, se preferir) e eu lembrei do meu avô. Meu avô que não tocava acordeom pra mim. Ele só fingia, e como eu era muito novinha, achava tudo lindo. E ganhava uma balinha após a apresentação.
Historinha de criança. Totoro, você tinha que ver. Sampa é Sampa.

dia 22 - O encontro

Levantei, fui pro banho esfregar bem as orelhas, tirar as remelas do olho, porque eu tinha um encontro.
Ia conhecer a Ivana Arruda Leite.
Entrei num cúbiculo lotado e além dela, estavam lá Luiz Ruffato, Marcelino Freire, Índigo e como ouvinte a Andréa Del Fuego.
Concordei e discordei de um monte de coisa e isso não teve a menor importância.
Estava ali pra ouvir, pra contar pros meus netos.
Lembrei do Wander Piroli. Lembrei das minhas tardes naquela salinha esprimida do Felicíssimo, quando ele ia nos visitar, ninguém ganhando nada com aquilo. Mas aquelas tardes valeram o que nenhum dinheiro nunca me pagou. Nem vai pagar.
E você tinha que ver, aquela gente inteligente, se expondo, se contorcendo. Escritor constrói a si próprio, cresce de dentro pra fora. Como disse o Marcelino, num dos seus atos dramáticos (ele é meio ator, sabe?) resumiu: "Dei! Dei e dou! Pimenta no cu dos outros é refresco". Ele não estava falando do processo criativo não, mas parecia.

Ao final, tirei meu livrinho de dentro da bolsa, super tímida, não queria incomodar pôxa, a gente não incomoda os expoentes do nosso olimpo particular, né? E pedi para a Ivana autografar. Acho que ela ficou feliz com o gesto e até me abraçou.
Saí do estande do SESC, que promoveu o encontro, e fui parar no da Cia. das Letras.
Lá um mulher enorme esbarrou em mim. Era a Malu Mader.
Quase falei: "Ih Malu, não adianta ficar encostando não. Ela abraçou a mim, feiosa, não você."

Comprei meus livrinhos, no saldo ficamos com:
Folhas das Folhas de Relva - Walt Whitman - Editora Brasiliense (prefácio do Paulo Leminski)
A Comédia dos Erros - Shakespeare - LePM
As 100 melhores histórias da Mitologia - Deuses, heróis, monstros e guerras da tradição greco-romana. - A. S. Franchini e Carmen Seganfredo - LePM
De lambjua ganhei do SESC:
Guia brasileiro de produção cultural 2004 - Edson Natale e Cristiane Olivieri - Zédolivro (sim, esse é o nome da Editora)
Pegamos o ônibus e eu encostei, na minha almofada inflável, uma cabeça renovada.

dia 23 - O reencontro

Primeiro com as gatas, que esse sim, conta.
Depois com a rotina. Evidentemente, relativizada pelas novidades que ainda rondam a mente e transparecem no rosto.
Por último, com a sua ausência. Você tinha que estar lá, tinha que ver. Mas não tem nada não, Totoro. Eu estava, eu vi e estou aqui pra te contar.

(Prometo todos os links amanhã, pode ser?)

Saindo da ordem para brincar com a Lila.

cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. e além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue. (*)

1) eu como sanduíches pelas beiradas.

2) dou pro mesmo cara há 10 anos e acho isso bom.

3) eu sei beliscar com o pé.

4) sinto cócegas quando assopram em mim.

5) eu acho a coisa mais engraçada do mundo aquele barulho que faz quando a gente aperta a bochecha alheia cheia de ar.

(*) aviso aos navegantes: fui liberada da 2a regra pela dona da brincadeira.

quinta-feira, março 09, 2006

Dia 19 - Chek list

Paguei as contas
Visitei mamãe
Escovei as gatas
Comi estrogonofe de soja (saudável e gostoso)
Peguei a correspondência.
Fiz a mala.
Dormirei cedo.

Fiz uma cruzinha em mais um dia do calendário.

Dia 18 - Da mulher

Infelizmente, o 08 de março, dia internacional da mulher, perde a cada ano o seu significado político.
Toda vez que eu leio um texto meloso ou recebo uma rosa murcha de algum estabelecimento comercial, imagino
os 129 cadaverzinhos se remexendo em suas tumbas. Sim, para quem não se lembra, estou falando dos
129 cadáveres das mulheres cabornizadas em uma fábrica em Nova Iorque (ou Chicago, não sei) num longínquo 8 de março do sec. XIX.
Provavelmente, há controvérsias, o episódio que inspirou a definição da data.
Isso posto, tenho pouco a comentar. Apenas:
. Não confundam o dia internacional da mulher com o dia das mães.
. De acordo com o Ipas-Brasil "na América Latina e Caribe, de 25% a 50% das mulheres são vítimas da violência doméstica; 33% sofrem abuso sexual entre os 16 e 49 anos; pelo menos 45% delas são objeto de ameaças, insultos e destruição de bens pessoais. Ou seja, em algum momento de suas vidas, metade das mulheres latino-americanas é vítima de alguma violência".
. Mulheres do mundo, honrem as calcinhas que vestem.

terça-feira, março 07, 2006

Dia 17 - A revanche

Pois é, Totoro,

Estava eu remoendo a segunda brava e vem a terça para lavar a alma.
Primeiro, influenciada pela sua sugestão, deixei um comentário no blog da Ivana.
E não é que me escritora favorita estará na Bienal? e Melhor, eu também!
Domingo às 15 horas. Imperdível.

Para completar, fui levar as chaves para o dr. Omni.
Começamos a tagarelar em pé, na Vetta mesmo, fomos parar numa mesa de buteco, no Otoni 16, e não paramos de falar até agorinha mesmo.
Olha que privilégio, papo de buteco, com o Omni!

Dia 16 - Segunda-feira

Típica. Reunião de trabalho às 8 horas da matina.
Aí vai a Ludmila para a aula de pandeiro. Ônibus, chuva e duas horas em pé batucando. É bom, mas cansa.

Dia 15 - Domingo em família

Um dia para a farra outro pra família.


Nesse, eu quero autógrafo

domingo, março 05, 2006

Dia 14 - Ponto Final

Pois é, Totoro, ontem assistimos, eu e Mônica, o Match Point
do Woody Allen.
Não que o filme seja ruim, mas eu esperava mais.
Ele se arrasta até os últimos 30 minutos que são excelentes. Mas eu não sei se um filme regular dois terços do tempo e ótimo no final deve ser considerado bom.
E muito cá entre nós, achei a atuação da Scarlett Johansson fraquinha e eu habitualmente gosto dela nos filmes.

Na verdade o mais divertido foi jogar conversa fora com a Mônica por horas a fio. Isso é bom. Aliás, nossos diálogos são melhores, mais divertidos, que os do Woody Allen.

PS - Também assisti ontem, na tv, Aos treze. Gostei do filme, porque é tipo um Kids mas sem a apelação e levanta as questões direitinho, os perigos e tal.
Ele me convenceu que a apelação não é necessária mesmo. Não adianta me dizer 'oh, mas o Kids mostra a crueza da realidade, por isso ele é mais legal'.
Mostra nada, realidade é realidade, filme é filme, é construção, é narrativa, é discurso.
Aos treze faz o que se propõe, coloca uma discussão em pauta.
Agora teve um aspecto que me chamou a atenção no filme que foi o "quando você vai perceber o óbvio".
Como é difícil enxergar que uma situação mudou, mesmo que você esteja em frente a ela, de olhos abertos e atentos.
E é verdade, a gente simplesmente não vê que a filha usa droga, que o pai não quer saber, que o namorado trai com a melhor amiga.
Óbvio que é só somar 2 mais 2, mas ninguém o faz. É preciso uma coragem quase sobre-humana para fazê-lo.
Mesmo sendo a coisa mais evidente do mundo.
Acho que faz parte da natureza humana isso. Uma espécie de instinto de preservação, que nos impede de ver o que a nossa cabeça ainda não consegue aceitar.

sexta-feira, março 03, 2006

Dia 13 - Sampa

Totoro,

Agora é oficial: na próxima sexta, dia 10 vou pra Bienal do livro em São Paulo.
Volto no domingo com muita propaganda, alguns livros e, certamente, calos nos pés.
Mas tem que ser assim, senão, não tem graça, né?

quinta-feira, março 02, 2006

Dia 12 - um tapinha não dói

Totoro,

Depois de conversar com você fui assistir, finalmente, Fale com Ela.
Engraçado, porque à época, eu estava com um pouco de canseira do Pedro Almodóvar, achando filmes como Tudo sobre a minha mãe e A flor do meu segredo sensíveis demais.
Voltei a assisti-lo quando vimos no cinema o Má Educação, que nesse sentido eu tinha achado ótimo, porque voltava para tema mais masculinos: sexo, violência, desejos.
E descobri, para minha surpresa absoluta que havia perdido, exatamente o elo entre as duas coisas: Fale com Ela.
Filme instigante esse, incômodo, difícil de enquadrar, de classificar.
Até porque ele utiliza umas técnicas que eu não via há muito tempo no cinema contemporâneo, como falar de arte apresentando a arte;
mas consegue escapar de longe de qualquer, qualquer, qualquer clichê.
Como um filme consegue usar tanto de uma linguagem clichê e ser uma obra absoluta anti-determinismo? Não sei, mas é exatamente isso que Fale com Ela é.
A feminilidade, a masculinidade, a vida, a morte, a suavidade, a violência, a paixão, o ódio, estão todos lá, todos confrontando-se e, eu juro,
não há um único momento em que você diz: ha-há! Peguei você! Olha o determinismo aí, olha a obviedade surgindo, olha as convenções... nada, nada.
Na verdade, é o filme pega você o tempo todo. O filme joga na sua cara toda hora: ah, pensou que isso? Não, é aquilo.
Detalhe: o filme não é do Igmar Bergman. Não tem discussões filosóficas, chatonildas, pra intelectualzinho punheteiro se divertir não.
O filme é sobre a vida cotidiana. Como sempre. A vida cotidiana que é surpreendente, que pode acordar você, que pode tirar qualquer um do sono profundo.
Tem um diálogo perfeito já no final do filme, que uma senhora diz para o protagonista:
- Um dia nós temos que conversar.
Aí ele responde:
- Sim, temos sim, mas vai ser simples.
Ela:
- Simples? Eu sou dançarina e sei, nada é simples.
Aí você lembra da frase do Fred Astaire, que dizia que os outros dançarinos treinavam 7, 8 horas para fazer bem feito, ele treinava, 10, 12 horas para parecer fácil.
Aliás, acho que o Almodóvar conseguiu com esse filme chegar lá. Ele surpreende o espectador o filme inteiro, e ainda faz parecer que se trata da coisa mais natural e simples do mundo.

quarta-feira, março 01, 2006

Dia 11 - Cinzas

E não é, Totoro, que me fizeram trabalhar hoje, depois de meio-dia?
O divertido é ver a cara dos outros, comerciários, motorista de ônibus, trocador, colegas de trabalho,
Todo mundo com aquela cara de "cinzas" assumida.
Eu nem teria ligado, se não fosse a chuva. Porque aí eu já acho meio demais.
Ressaca, trabalho, preguiça, pouco ônibus, e ainda pé molhado?

Dia 10 - Reação Felina


Totoro,

O último dia de carnaval teve cara de domingo. Dormi muito e, de atividade mesmo, só o baralho.

Agora, um capítulo a parte, tem sido a companhia das gatas.
A Zen reage à sua maneira natural. Primeiro ficou ranzinza. Eu chegava em casa ela imediatamente:
- Miaaaaaauu.
- Oi Zen.
- Miaaaaaauu. Miaaaaaauu.
- Eu sei Zen, eu também.
- Miaaaaaauu. Miaaaaaauu. Miaaaaaauu.
- Não Zen, calma, volta sim.

Agora, passada uma semana, ela está em um momento solidário. Eu chego, ela deita na minha barriga, coloca a pata no meu rosto e começa:
- Miau?
- Tô bem sim, Zen.
- Miau? Miau?
- Tô, Zen, eu tô comendo sim.
- Miau. Miau. Miau?
- Viu, Zen, eu sei que nós vamos superar.

Já a Zul demonstra a carência tendo crises adolescentes. Outro dia ela tentou fugir de casa e saiu pela porta da rua. O problema é que diferentemente da Zen ela corre.
Mas felizmente, ela correu para fora e em alguns segundos correu para dentro.

Outro dia acordei com um barulho na janela. Era a Zul tentando subir no parapeito de uma janela fechada. A cena que vi foi digna de desenho animado, a Zul escorregando pela parede, tentando usar as garras para se segurar.

Ontem mesmo, estava na cozinha, a Zul na copa, imóvel, com a cabecinha virada quase 130 graus olhando a parede branca. Fui lá, olhei a parede, nada. Pensei, pronto deram um doce pra minha gata e ela está tendo uma alucinação.
Fiquei de olho, esperei uns minutinhos (e ela completamente imóvel) quando, repentinamente, sai uma formiga de um buraquinho invisível (pelo menos pra mim) entre o chão e a parede. A Zul, triunfante, foi torturar o brinquedo novo e eu respirei aliviada.

O difícil é quando a Zul resolve me contar alguma coisa.
- Miaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau?
- Oi Zul, é, eu sei que são 5 horas da manhã e o sol acabou de aparecer na janela. Não precisa me acordar.

- Miaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau?
- Oi Zul, é, eu sei, são 3h30min da manhã e ele ainda não chegou. Vai demorar um pouquinho mesmo. Não precisa me acordar.

- Miaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau?
- Não Zul, não é uma boa idéia a gente aproveitar que está de madrugada e miar desesperadamente pra ver se ele escuta. E, pelo amor de deus, volta a dormir.

terça-feira, fevereiro 28, 2006

Dia 9 - Vale quanto pesa

Totoro,

Ontem fomos assistir ao filme Capote. Não é exatamente um cine-biografia. Ou é, só que daquelas espertinhas.
O roteiro foca apenas quatro anos da vida do escritor Truman Capote e não se preocupa em dar muitas explicações além deles, por exemplo, não há flash backs.
Mas fica evidente que a essência do moço está lá. E os quatro anos em questão foram realmente muito bem escolhidos.
É o período em que ele realiza 'a pesquisa' para escrever "A sangue frio" seu livro mais importante, talvez o primeiro livro-reportagem da história (ou jornalismo literário, se você preferir).
A direção é correta e uma coisa muito legal, o roteiro não faz concessões e é absolutamente enxuto. Ah, não entendeu não? Vai pesquisar na Internet, nos livros, mas me poupe, eu estou aqui para contar uma história.
E essa história, não apenas do Capote, mas da construção da sua obra, é realmente muito boa. Até porque levanta uma bola interessante: até onde um escritor/jornalista deve ou pode ir para conseguir a sua obra prima?
Capote foi longe, tão longe que praticamente não voltou depois. Apagou-se.
Além de enxuto, o filme ainda tem um pilar claro: a atuação.
Se o Philip Seymour Hoffman finalmente ganhou o papel que ele merecia desde, sei lá, Happiness, Magnólia, ou Boogie Nights, os demais atores também não deixam nada a desejar.
Destaque absoluto para Clifton Collins Jr., o assassino que conta sua história a Capote.
Filme elegante, inteligente e que utiliza o potencial de seus atores ao máximo. Resumindo, valeu cada centavinho do ingresso.

Depois fomos pro Café com Letras jogar conversa fora.


Truman Capote

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Dia 8 - O Buraco

Pois então Totoro, hoje foi o dia de buraco. Entre amigos é sempre bom e rolou muita risada.

Lembrei daquele texto antigo, sobre o amor e o jogo de buraco, lembra?

Pois é, resgatei-o e coloco aqui, para posteridade. Inclusive com uma bela ressalva, a amiga citada na micro-crônica ainda está lá, jogando com o mesmo parceiro.
Pelo menos no outro jogo, porque buraco, hoje, eles não quiseram jogar.


O AMOR E O BURACO

Conversando com uma amiga cheguei a conclusão que existe uma estreita ligação entre o relacionamento amoroso e o jogo de buraco. Em primeiro lugar, todo mundo conhece os dois. Quem não conhece, que não leia, vai comer feijão e arrumar mulher, ou homem. Não tenho paciência para aqueles que abdicam dos prazeres da vida. Ambos são jogos, mas um se joga com o baralho e o outro... Bem... Com um material bem menos convencional.

O problema da minha amiga era simples. Deveria baixar a guarda e acreditar nas palavras do pretendente? Deveria confiar? Eu, que sempre gostei de um buraquinho entre amigos e sou conhecida pela minha fé na humanidade, não pensei duas vezes. Argumentei que durante a partida a gente precisa de vez em quando abrir o jogo, mostrar as trincas, ou como ela se transformarão em canastras? Como pegar o morto sem descer todas as cartas? Impossível! Concluí que, para não atravancar o jogo, é necessário entregar um pouquinho para o adversário. No caso do relacionamento, inclusive, essas entregadinhas até que não são ruins... Bem, espero que a minha amiga tenha se entendido com o rapaz e esteja feliz. Quanto a mim, continuei com as elucubrações sobre os jogos distintos e cheguei, juntamente com meu parceiro preferido em ambos, a mais algumas conclusões!

Pegar o morto e fazer uma real:
Dar uma chance para aquele carinha que vivia cantando você, sem gracinha de tudo tadinho e descobrir que ali estava o namorado gentil e tarado que você e a Rita Lee viviam pedindo ao papai do céu.

Pegar o lixo só para ter descarte:
Ficar com aquele boyzinho infeliz só para não voltar para casa no zero a zero.

Segurar a real do adversário na mão:
Dar uma de difícil.

Evitar fazer alguns pontos só para o jogo não terminar na próxima rodada:
Iiihhhh, você está apaixonada.

Algumas frases que podem ser usadas entre parceiros. No amor ou no buraco:

- Por que você não abre o jogo?
- Como eu ia saber, se você estava escondendo?
- Aí não! Põe em outro lugar que é melhor...
- Você descartou uma coisa que era importante para mim.
- Outra vez? Mas eu estou cansada... Então tá, só mais uma partidinha e depois a gente vai dormir.

domingo, fevereiro 26, 2006

Dia 7 - Porque tudo na vida tem uma primeira vez

Totoro,

Fomos eu e Naoto para o hits da Up! Jogamos 3 partidas de sinuca equilibradíssimas e numa delas eu encaçapei quatro bolas se-gui-das. Foi a glória.
dançamos horrores de depache mode a 'tô ficando atoladinha', passando por Placebo, Morcheeba e Abba. Eu, Naoto e noventa e nove vírgula... sete? por cento dos gays simpáticos de Belo Horizonte.
P.S. bunitinho: tocava Spice Girls e eu gritava: Gente, isso é uma gaita! É uma gaita!!

sábado, fevereiro 25, 2006

Dia 6 - Bateu II - A missão

ressaca {verbete}*

Datação
1554 cf. NautTM

Acepções

Houaiss: Regionalismo: Brasil. Uso: informal. mal-estar causado pela ingestão de bebidas alcoólicas. Regionalismo: Brasil. Uso: informal. mal-estar produzido por uma noite passada em claro.
Ludmila: tudo aquilo que sobra quando a parte boa de ingerir bebidas alcoólicas vai embora. Dor de cabeça incapacitante. Fim de festa.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Dia 5 - A véspera da véspera

Totoro,

Nessa terra quente, a proximidade do carnaval começa a se fazer presente.
Amanhã, creio eu, ninguém vai querer nada com nada.
HOje o Max ligou e avisou que tem um povo bom na área. Ivan, Adriana e ele devem ficar por aqui.
Carolzinha também chegou hoje. Vamos ver se eu aprendi alguma coisa com a visita da Maya.

Cortei meu cabelo e ficou fresquinho. Fui ao salão que a minha mãe frequenta.
As frescuras são meio estranhas, mas o papo do cabelereiro é ótimo.
Ele me contou tudo sobre o ex. Contou as baixarias nas boates que o namorado aprontava, as chantagens que ele fazia pra conseguir dinheiro, contou que ele foi trocado por um argentino velho e metido a ricaço, que uma vez esse
mesmo ex-namorado quebrou o apartamento dele todo por causa de ciúme. Discorreu sobre todos os detalhes sórdidos do relacionamento e suspirou de saudade.
Disse que nunca teve um namoro tão bom.

O ser humano é um bichinho danado, ou não é?

quarta-feira, fevereiro 22, 2006


Dia 4 - o ó do ócio


Aí você fica com mais tempo, e o que vai fazer com ele?
O óbvio, nada que preste.
Até televisão aberta eu assisti ontem.
Peguei um pedaço de O Observatório da Imprensa, aquele programa da TV Cultura com o Alberto Dines, aliás, tadinho,
cada vez mais parecido com o Tutan Kamon, depois de mumificado.
Nesse programa fiquei sabendo que as escolas de samba do Rio estão vendendo os seus sambas enredos.
Quer dizer, vendendo não, veja bem, estão angariando patrocinadores para os mesmos, uma coisa completamente diferente.
Nessa brincadeira a 'Vila Isabel' desclassificou o samba enredo composto pelo Martinho...*da Vila* porque não estava de acordo
com os interesses do patrocinador.
Tem cabimento? Imagina só, daqui alguns anos, os sambas enredos:
Portela: 'Mais que o possível' - patrocinador Banco Real
Beija Flor: 'Amo muito tudo isso' - Mac Donald's
Vem aí, patrociada pelas Casas Bahia, a Mangueira, com o samba-enredo: "Quer pagar quanto?"
Olha que eu já achava um saco aqueles sambas invariavelmente sobre o período colonial brasileiro, pretexto básico para colocar índia pelada, homem com roupa dourada e peruca branca, ou então, vestido de bandeirante. Façam-me o favor...

Antes disso eu ainda tentei assistir Big Brother, mas não dei conta. O que é aquilo? Um senhor já, carequinha, de barriga, carregando uma vassoura e uma pá de lixo pra baixo e pra cima, um povo com pinta de 'profissional do sexo' dentro de uma banheira de hidromassagem, o que significa aquilo?
Juro, parece cenário de filme pornô. Assustador.
Eu vou é tocar pandeiro.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Dia 3 - Bateu


ressaca
{verbete}*

Datação
1554 cf. NautTM

Acepções
substantivo feminino
1 forte movimento das ondas sobre si mesmas, resultante de mar muito agitado, quando se chocam contra obstáculos no litoral
1.1 a vaga que se forma nesse movimento

Etimologia
esp. resaca 'retrocesso das ondas', este das f. do esp. saca e resaca (1492), que se aplicavam ao fluxo e refluxo do mar, quando este lança e torna a sugar os objetos que estão junto à orla; ver sac-; f.hist. 1554 resaca, 1640 ressaca, 1727 reçafa

Não sei porque todo mundo odeia segunda-feira, eu odeio a terça. Dia sem graça, sem charme. O que é a terça-feira? A véspera da quarta, no máximo.

*Fonte: Houaiss

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Dia 2 - Eles estão entre nós

Totoro,

Sabe que voltar a andar, tanto a pé como de ônibus, tem suas vantagens? Posso fazer uma coisa que adoro: olhar os outros.
Presto atenção em tudo: na dona que está quase dormindo, quase dormindo e perde o equilíbrio, coitada. O cahorro de rua que atravessa a Raja na faixa de pedestre. Até na mensagem de celular que o rapaz que está sentado na minha frente:
"A gente não pode ver, mas sabemos que eles existem". Os espíritos? O establishment? Os políticos honestos?
Não sei, só sei que reparei.

Claro que é animação inicial. Provavelmente em três ou quatro dias vou achar essa história de ônibus um saco.

Mas o i-pobre ajuda pra caraaambaaa. Acordei hoje, segundona, primeirona sozinha, tomei café, encontrei a Roze e fui subir o morro. Coloquei o fone no ouvido e foi só ouvir os dois primeiros versos: You and me we're meant to be / Walking free in harmony...
Morcheeba mudou meu astral. Aliás pra você, Totoro, porque eu adoro essa música e cá entre nós, tem tudo a ver.

Rome Wasn't Built In A Day.

Morcheeba

You and me we're meant to be
Walking free in harmony
One fine day we' ll fly away
Don? t you know that rome wasn' t built in a day

In this day and age it's so easy to stress
'cause people are strange and you can never second guess
In order to love child we got to be strong
I'm caught in the crossfire why can't we get along

'cause you and me we're meant to be
Walking free in harmony
One fine day we' ll fly away
Don' t you know that rome wasn' t built in a day

I'm having a daydream, we're getting somewhere
I'm kissing your lips and running fingers through your hair
I'm as nervous as you 'bout making it right
Though we know we were wrong, we can' t give up the fight
Oh no

'cause you and me we're meant to be
Walking free in harmony
One fine day we' ll run away
Don' t you know that rome wasn' t built in a day

You and me we're meant to be
Walking free in harmony
One fine day we' ll fly away
Don' t you know that rome wasn' t built in a day

You and me (you and me) we're meant to be (meant to be)
Walking free (walking free) in harmony (in harmony)
One fine day (one fine day) we' ll ran away (we gonna ran away, we gonna ran away)
Don' t you know that rome wasn' t built in a day

You and me (you and me) we're meant to be (meant to be)
Walking free (walking free) in harmony (in harmony)
One fine day (one fine day) we' ll fly away (we gonna ran away, we gonna ran away)
Don' t you know that rome wasn' t built in a day


domingo, fevereiro 19, 2006

Diário de Bordo


Totoro,

Eu sei que meios de comunicação não vão faltar, mas também não custa inventar. Muito inspirada nos 73 bichos da Índigo,
vou tentar fazer aqui, nesse discreto blog, os 42 dias de viagem ao contrário: a história de quem ficou.

Dia 1 - Nós estamos na moda

Só saí de casa para ir à Boníssima e descobrir que comprar legumes numa padaria chique não é a pior das idéias. Comprei um alface hidropônico, quatro tomates e uma bandeijinha de quiabo. Já tenho janta pra semama por menos de R$ 5,00.
Aí fui assistir TV e me pego acompanhando as Olimpíadas de Inverno no SporTV. E descobri que nós estamos na moda.
Sabe aqueles casais com uniformes barangos que dançam no gelo? Pois então, por uma definição dos organizadores, na categoria 'dança original' eles tinham que se apresentar ao som dos ritmos latinos: bolero, samba, rumba e o escambal (que, estranhamente, não se enquadra em ritmo latino) Um casal da Europa Oriental dançou 'Manhã de Carnaval' e foi até bonito.
Mas o melhor das apresentações foi da dupla japonesa que dançou "Mamãe eu quero". Juro.
Mamãe eu quero,
Mamãe eu quero mamar
Me dá chupeta, me dá chupeta
Pro beber não chorar.

No meio de piruetas, plumas, aquele gelo todo e, é claro, muita gente branca sem entender nada.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

A Lei do Desejo

Motiva-me observar um movimento a favor (do que quer que seja), um movimento de abertura, de tolerância, de esperança, de coragem. Motiva-me a ponto de voltar a escrever aqui. :)

terça-feira, janeiro 03, 2006

O pagamento final

Esse ano me fiz uma promessa:
Não me prometo nada.
O que vier está ótimo, o que vier é lucro.
Cansei de me impor metas, me cobrar resultados e sofrer por antecedência.
Em 2006 gostaria, apenas, de curtir o que vier de bom e sofrer o que é sofrível, já que problemas sempre existirão.
Mas também só eles. Nada de prever o pior, nem almejar o melhor. A gente sempre fica no meio a meio mesmo...
Pronto. Eu quero é o meu barquinho. A minha terceira margem.