Dirty Pretty Things
Então, ontem fiquei de molho em casa lendo uma revistinha da Mente e Cérebro sobre filosofia. Algo do tipo Filosofia Clássica for dummies, tem Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e Tomás de Aquino. Guardadas as devidas proporções e ressalvada a época em que os caras viviam e trabalhavam, tem muita coisa interessante. Principalmente se comparamos com a nossa realidade hoje.
O que será que nós fizemos com noções de bem, mal, do que é belo, do que é certo, de bem comum? Jogamos para o alto? Virou poeira cósmica?Bem, ontem também assistimos o filme A Rainha do Stephen Frears. Um filme sutil, que discute temas atuais como verdade e versão, princípios e imagem, subjetividade e representação. Pena que uma coisa boa, a excelente interpretação da protagonista Helen Mirren, como a Rainha Elisabeth II, eclipsou o filme como um todo.
Uma coisa que chamou muito a minha atenção foi a constante presença de imagens da Diana no filme que vão ficando, no decorrer da narrativa, cada vez mais fantasmagóricas. E o que são imagens além disso? Representações do real, fantasmas. Umas das últimas aparições da Diana (o filme mistura filmagens com cenas de arquivo todo o tempo) - quando a crise já está instalada - é um olhar dela, Diana, para a câmera, como quem diz: e aí? O que você vai fazer comigo? Pareceu um filme de terror nessa hora.
E não tem nada dessa história de ‘ah, vamos mostrar a face humana da rainha’. O filme usa um episódio da história, uma situação factível, para questionar a nossa própria percepção do que é real (nos dois sentidos) e o que não é. Questionar o que são celebridades (aliás um outro filme que também toca nessa questão, e se utiliza de uma figura palaciana, é o Maria Antonieta da Sofia Copola, mas isso é outra história), o que é imagem, o que nós seres sociais desejamos e cobramos delas. Porque, se você parar para pensar, quem era a Diana? Quem e o que a matou? Quem é a Rainha Elisabeth? Quem e o que a mantém lá no trono até hoje? Não seriam as mesmas situações e as mesmas pessoas?
Aí vem o Stephen Frears e põe a gente pra pensar.
Até o cartaz já diz tudo