quinta-feira, junho 15, 2006

Ao mestre, com carinho

Alguns escritores específicos, com sua literatura, mudaram minha vida. Formei meus valores, alarguei meu pensamento, encontrei caminhos - que ainda sigo - em seus livros. Muitas vezes busquei até consolo, afago, em momentos difíceis de dor, ou inspiração para viradas, revoluções internas - e eu sempre encontrei. A eles, e as suas obras, dedico carinho e respeito imensos.

Pouquíssimos, entretanto, me ensinaram, o que quer que seja, pessoalmente.
Pouquíssimos, me deram além de seus textos, ensinamentos com o calor do hálito, sentados em um sofá baixo de uma quase redação.

Entre esses pouquíssimos está o Wander Pirolli.

Há menos de um mês o Wander morreu. É, morreu, pronto e acabou. Não o ofenderia com eufemismos. Uma coisa que ele me ensinou foi a não dourar a pílula. Ele nunca dourou. Como editor de polícia, como jornalista, como escritor, a lente dos olhos do Wander era cristalina. Adorava uma realidade nua e crua. Porém no papel, a verdade era enriquecida com sua ironia fina e aquela coerência, típica dos malucos, beberrões - de cachaça - e insones.

Em entrevista ao Felicíssimo ele dizia jornal só de notícias boas, isso não existe. Não é jornal, jornal se alimenta de desgraça, de dor. Isso aí não é jornal. Depois ria e tragava o Hollywood. Sempre colaborou para aquele não-jornal. Sempre freqüentou a nossa quase redação.

Pelo menos, ele ainda está aí. O papel. Leia-o. Principalmente se nunca o fez antes. Leia Wander Pirolli e compreenda, se for capaz, o que eu, e aqueles tiveram a minha sorte, sentimos agora.