domingo, março 26, 2006

Blackmail - cena 1


Ludmila está sentada no banquinho do banheiro esperando uma pausa no rock farofa para voltar para a pista.
Entram 2 mocinhos.
Mocinho 1 fecha as pernas e faz cara de 'tô apertado'.
Mocinho 2: Vai naquele.
Mocinho 1: Não tem porta...
Lud pro mocinho 1: Vai naquele que ele (apontando para o mocinho 2) vigia pra você.
Mocinho 1 pro mocinho 2: Você vigia pra mim?
Mocinho 2: Vigio.
Mocinho 1 e Mocinho 2 vão para trás da Ludmila que felizmente estava de costas para a privada sem porta.
Mocinho 1 vai embora com o mocinho 2 mas antes agradece pela ajuda.
Dois segundos depois volta o Mocinho 1:
- Minha roupa tá muito clara para esse lugar? Ele estava com uma calça jeans e uma camiseta branca com detalhes azuis.
- Não pergunte isso para mim, digo e sorrio. Na verdade todas, mas absolutamente todas as pessoas do blackmail estavam de preto ou jeans. Menos eu que, inacreditavelmente, estava com uma roupa absolutamente clara.
Ele sorri: "Ah! você tava na Joy também?
Respondi que não com a cabeça e ele continuou:
- Lá tava péssimo! Aí eu vim pra cá, já agarrei dois! Acredita menina?
- Uau, que sucesso! E eu aqui sentada nesse banquinho!
Ele gargalhou e foi embora, agarrar mais.
A mocinha que estava no banquinho ao lado do meu, provavelmente descansando ou esperando o banheiro vagar, me olhou e concluiu:
- E a gente ainda tem que ouvir isso.

segunda-feira, março 13, 2006

dia 20 - a véspera

Dia de viagem. Virei pra nossa amiga da limpeza e disse: não estarei em casa esse fim de semana. O que estiver na geladeira e for perder, joga fora, leva pra casa, mas não deixa aqui não. Cheguei em casa à noite e a geladeira nunca esteve tão limpa. Restaram as caixinhas de nuggets no congelador e um litro de leite recém aberto. Acho que a minha amiga tem intolerânia a lactose. O Almindo recomendou e comprei aquelas almofadinhas infláveis para o pescoço. Não é que o negócio funciona?

dia 21 - Primeiro dia de Bienal

Chegamos em sete horas. Mas Sampa é Sampa. Seis horas da matina a padaria, na esquina da casa da Clara, já estava aberta.
O caminho para o Anhembi foi tortuoso. Tudo errado. Mas a feira estava fantástica.
Um milhão de livros, pernas pra que te quero, empolgação absoluta. Percorremos apenas um terço da feira.
Assisti uma palestra sobre 'o papel da mídia para incentivar a leitura'. Péssima.
A conclusão nada surpreendente: se aquela é a mídia que incentiva a leitura, não está ajudando em nada.
À noite fomos, já exaustos, assistir um show da Jazz Sinfônica. Homenagem a Astor Piazzola. Não poderia ser melhor. De graça, no Memorial da América Latina, auditório maior e mais novo que o Palácio das Artes. A união entre orquestra e big band. Na última música o cara da percussão tocou um pandeiro honesto.
Totoro, você tinha que ver.
Uma outra figura lá (esqueci o nome do moço) tocou maravilhosamente o acordeom (ou acordeão, se preferir) e eu lembrei do meu avô. Meu avô que não tocava acordeom pra mim. Ele só fingia, e como eu era muito novinha, achava tudo lindo. E ganhava uma balinha após a apresentação.
Historinha de criança. Totoro, você tinha que ver. Sampa é Sampa.

dia 22 - O encontro

Levantei, fui pro banho esfregar bem as orelhas, tirar as remelas do olho, porque eu tinha um encontro.
Ia conhecer a Ivana Arruda Leite.
Entrei num cúbiculo lotado e além dela, estavam lá Luiz Ruffato, Marcelino Freire, Índigo e como ouvinte a Andréa Del Fuego.
Concordei e discordei de um monte de coisa e isso não teve a menor importância.
Estava ali pra ouvir, pra contar pros meus netos.
Lembrei do Wander Piroli. Lembrei das minhas tardes naquela salinha esprimida do Felicíssimo, quando ele ia nos visitar, ninguém ganhando nada com aquilo. Mas aquelas tardes valeram o que nenhum dinheiro nunca me pagou. Nem vai pagar.
E você tinha que ver, aquela gente inteligente, se expondo, se contorcendo. Escritor constrói a si próprio, cresce de dentro pra fora. Como disse o Marcelino, num dos seus atos dramáticos (ele é meio ator, sabe?) resumiu: "Dei! Dei e dou! Pimenta no cu dos outros é refresco". Ele não estava falando do processo criativo não, mas parecia.

Ao final, tirei meu livrinho de dentro da bolsa, super tímida, não queria incomodar pôxa, a gente não incomoda os expoentes do nosso olimpo particular, né? E pedi para a Ivana autografar. Acho que ela ficou feliz com o gesto e até me abraçou.
Saí do estande do SESC, que promoveu o encontro, e fui parar no da Cia. das Letras.
Lá um mulher enorme esbarrou em mim. Era a Malu Mader.
Quase falei: "Ih Malu, não adianta ficar encostando não. Ela abraçou a mim, feiosa, não você."

Comprei meus livrinhos, no saldo ficamos com:
Folhas das Folhas de Relva - Walt Whitman - Editora Brasiliense (prefácio do Paulo Leminski)
A Comédia dos Erros - Shakespeare - LePM
As 100 melhores histórias da Mitologia - Deuses, heróis, monstros e guerras da tradição greco-romana. - A. S. Franchini e Carmen Seganfredo - LePM
De lambjua ganhei do SESC:
Guia brasileiro de produção cultural 2004 - Edson Natale e Cristiane Olivieri - Zédolivro (sim, esse é o nome da Editora)
Pegamos o ônibus e eu encostei, na minha almofada inflável, uma cabeça renovada.

dia 23 - O reencontro

Primeiro com as gatas, que esse sim, conta.
Depois com a rotina. Evidentemente, relativizada pelas novidades que ainda rondam a mente e transparecem no rosto.
Por último, com a sua ausência. Você tinha que estar lá, tinha que ver. Mas não tem nada não, Totoro. Eu estava, eu vi e estou aqui pra te contar.

(Prometo todos os links amanhã, pode ser?)

Saindo da ordem para brincar com a Lila.

cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. e além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue. (*)

1) eu como sanduíches pelas beiradas.

2) dou pro mesmo cara há 10 anos e acho isso bom.

3) eu sei beliscar com o pé.

4) sinto cócegas quando assopram em mim.

5) eu acho a coisa mais engraçada do mundo aquele barulho que faz quando a gente aperta a bochecha alheia cheia de ar.

(*) aviso aos navegantes: fui liberada da 2a regra pela dona da brincadeira.

quinta-feira, março 09, 2006

Dia 19 - Chek list

Paguei as contas
Visitei mamãe
Escovei as gatas
Comi estrogonofe de soja (saudável e gostoso)
Peguei a correspondência.
Fiz a mala.
Dormirei cedo.

Fiz uma cruzinha em mais um dia do calendário.

Dia 18 - Da mulher

Infelizmente, o 08 de março, dia internacional da mulher, perde a cada ano o seu significado político.
Toda vez que eu leio um texto meloso ou recebo uma rosa murcha de algum estabelecimento comercial, imagino
os 129 cadaverzinhos se remexendo em suas tumbas. Sim, para quem não se lembra, estou falando dos
129 cadáveres das mulheres cabornizadas em uma fábrica em Nova Iorque (ou Chicago, não sei) num longínquo 8 de março do sec. XIX.
Provavelmente, há controvérsias, o episódio que inspirou a definição da data.
Isso posto, tenho pouco a comentar. Apenas:
. Não confundam o dia internacional da mulher com o dia das mães.
. De acordo com o Ipas-Brasil "na América Latina e Caribe, de 25% a 50% das mulheres são vítimas da violência doméstica; 33% sofrem abuso sexual entre os 16 e 49 anos; pelo menos 45% delas são objeto de ameaças, insultos e destruição de bens pessoais. Ou seja, em algum momento de suas vidas, metade das mulheres latino-americanas é vítima de alguma violência".
. Mulheres do mundo, honrem as calcinhas que vestem.

terça-feira, março 07, 2006

Dia 17 - A revanche

Pois é, Totoro,

Estava eu remoendo a segunda brava e vem a terça para lavar a alma.
Primeiro, influenciada pela sua sugestão, deixei um comentário no blog da Ivana.
E não é que me escritora favorita estará na Bienal? e Melhor, eu também!
Domingo às 15 horas. Imperdível.

Para completar, fui levar as chaves para o dr. Omni.
Começamos a tagarelar em pé, na Vetta mesmo, fomos parar numa mesa de buteco, no Otoni 16, e não paramos de falar até agorinha mesmo.
Olha que privilégio, papo de buteco, com o Omni!

Dia 16 - Segunda-feira

Típica. Reunião de trabalho às 8 horas da matina.
Aí vai a Ludmila para a aula de pandeiro. Ônibus, chuva e duas horas em pé batucando. É bom, mas cansa.

Dia 15 - Domingo em família

Um dia para a farra outro pra família.


Nesse, eu quero autógrafo

domingo, março 05, 2006

Dia 14 - Ponto Final

Pois é, Totoro, ontem assistimos, eu e Mônica, o Match Point
do Woody Allen.
Não que o filme seja ruim, mas eu esperava mais.
Ele se arrasta até os últimos 30 minutos que são excelentes. Mas eu não sei se um filme regular dois terços do tempo e ótimo no final deve ser considerado bom.
E muito cá entre nós, achei a atuação da Scarlett Johansson fraquinha e eu habitualmente gosto dela nos filmes.

Na verdade o mais divertido foi jogar conversa fora com a Mônica por horas a fio. Isso é bom. Aliás, nossos diálogos são melhores, mais divertidos, que os do Woody Allen.

PS - Também assisti ontem, na tv, Aos treze. Gostei do filme, porque é tipo um Kids mas sem a apelação e levanta as questões direitinho, os perigos e tal.
Ele me convenceu que a apelação não é necessária mesmo. Não adianta me dizer 'oh, mas o Kids mostra a crueza da realidade, por isso ele é mais legal'.
Mostra nada, realidade é realidade, filme é filme, é construção, é narrativa, é discurso.
Aos treze faz o que se propõe, coloca uma discussão em pauta.
Agora teve um aspecto que me chamou a atenção no filme que foi o "quando você vai perceber o óbvio".
Como é difícil enxergar que uma situação mudou, mesmo que você esteja em frente a ela, de olhos abertos e atentos.
E é verdade, a gente simplesmente não vê que a filha usa droga, que o pai não quer saber, que o namorado trai com a melhor amiga.
Óbvio que é só somar 2 mais 2, mas ninguém o faz. É preciso uma coragem quase sobre-humana para fazê-lo.
Mesmo sendo a coisa mais evidente do mundo.
Acho que faz parte da natureza humana isso. Uma espécie de instinto de preservação, que nos impede de ver o que a nossa cabeça ainda não consegue aceitar.

sexta-feira, março 03, 2006

Dia 13 - Sampa

Totoro,

Agora é oficial: na próxima sexta, dia 10 vou pra Bienal do livro em São Paulo.
Volto no domingo com muita propaganda, alguns livros e, certamente, calos nos pés.
Mas tem que ser assim, senão, não tem graça, né?

quinta-feira, março 02, 2006

Dia 12 - um tapinha não dói

Totoro,

Depois de conversar com você fui assistir, finalmente, Fale com Ela.
Engraçado, porque à época, eu estava com um pouco de canseira do Pedro Almodóvar, achando filmes como Tudo sobre a minha mãe e A flor do meu segredo sensíveis demais.
Voltei a assisti-lo quando vimos no cinema o Má Educação, que nesse sentido eu tinha achado ótimo, porque voltava para tema mais masculinos: sexo, violência, desejos.
E descobri, para minha surpresa absoluta que havia perdido, exatamente o elo entre as duas coisas: Fale com Ela.
Filme instigante esse, incômodo, difícil de enquadrar, de classificar.
Até porque ele utiliza umas técnicas que eu não via há muito tempo no cinema contemporâneo, como falar de arte apresentando a arte;
mas consegue escapar de longe de qualquer, qualquer, qualquer clichê.
Como um filme consegue usar tanto de uma linguagem clichê e ser uma obra absoluta anti-determinismo? Não sei, mas é exatamente isso que Fale com Ela é.
A feminilidade, a masculinidade, a vida, a morte, a suavidade, a violência, a paixão, o ódio, estão todos lá, todos confrontando-se e, eu juro,
não há um único momento em que você diz: ha-há! Peguei você! Olha o determinismo aí, olha a obviedade surgindo, olha as convenções... nada, nada.
Na verdade, é o filme pega você o tempo todo. O filme joga na sua cara toda hora: ah, pensou que isso? Não, é aquilo.
Detalhe: o filme não é do Igmar Bergman. Não tem discussões filosóficas, chatonildas, pra intelectualzinho punheteiro se divertir não.
O filme é sobre a vida cotidiana. Como sempre. A vida cotidiana que é surpreendente, que pode acordar você, que pode tirar qualquer um do sono profundo.
Tem um diálogo perfeito já no final do filme, que uma senhora diz para o protagonista:
- Um dia nós temos que conversar.
Aí ele responde:
- Sim, temos sim, mas vai ser simples.
Ela:
- Simples? Eu sou dançarina e sei, nada é simples.
Aí você lembra da frase do Fred Astaire, que dizia que os outros dançarinos treinavam 7, 8 horas para fazer bem feito, ele treinava, 10, 12 horas para parecer fácil.
Aliás, acho que o Almodóvar conseguiu com esse filme chegar lá. Ele surpreende o espectador o filme inteiro, e ainda faz parecer que se trata da coisa mais natural e simples do mundo.

quarta-feira, março 01, 2006

Dia 11 - Cinzas

E não é, Totoro, que me fizeram trabalhar hoje, depois de meio-dia?
O divertido é ver a cara dos outros, comerciários, motorista de ônibus, trocador, colegas de trabalho,
Todo mundo com aquela cara de "cinzas" assumida.
Eu nem teria ligado, se não fosse a chuva. Porque aí eu já acho meio demais.
Ressaca, trabalho, preguiça, pouco ônibus, e ainda pé molhado?

Dia 10 - Reação Felina


Totoro,

O último dia de carnaval teve cara de domingo. Dormi muito e, de atividade mesmo, só o baralho.

Agora, um capítulo a parte, tem sido a companhia das gatas.
A Zen reage à sua maneira natural. Primeiro ficou ranzinza. Eu chegava em casa ela imediatamente:
- Miaaaaaauu.
- Oi Zen.
- Miaaaaaauu. Miaaaaaauu.
- Eu sei Zen, eu também.
- Miaaaaaauu. Miaaaaaauu. Miaaaaaauu.
- Não Zen, calma, volta sim.

Agora, passada uma semana, ela está em um momento solidário. Eu chego, ela deita na minha barriga, coloca a pata no meu rosto e começa:
- Miau?
- Tô bem sim, Zen.
- Miau? Miau?
- Tô, Zen, eu tô comendo sim.
- Miau. Miau. Miau?
- Viu, Zen, eu sei que nós vamos superar.

Já a Zul demonstra a carência tendo crises adolescentes. Outro dia ela tentou fugir de casa e saiu pela porta da rua. O problema é que diferentemente da Zen ela corre.
Mas felizmente, ela correu para fora e em alguns segundos correu para dentro.

Outro dia acordei com um barulho na janela. Era a Zul tentando subir no parapeito de uma janela fechada. A cena que vi foi digna de desenho animado, a Zul escorregando pela parede, tentando usar as garras para se segurar.

Ontem mesmo, estava na cozinha, a Zul na copa, imóvel, com a cabecinha virada quase 130 graus olhando a parede branca. Fui lá, olhei a parede, nada. Pensei, pronto deram um doce pra minha gata e ela está tendo uma alucinação.
Fiquei de olho, esperei uns minutinhos (e ela completamente imóvel) quando, repentinamente, sai uma formiga de um buraquinho invisível (pelo menos pra mim) entre o chão e a parede. A Zul, triunfante, foi torturar o brinquedo novo e eu respirei aliviada.

O difícil é quando a Zul resolve me contar alguma coisa.
- Miaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau?
- Oi Zul, é, eu sei que são 5 horas da manhã e o sol acabou de aparecer na janela. Não precisa me acordar.

- Miaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau?
- Oi Zul, é, eu sei, são 3h30min da manhã e ele ainda não chegou. Vai demorar um pouquinho mesmo. Não precisa me acordar.

- Miaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau? Miaaaaaaaaaaau?
- Não Zul, não é uma boa idéia a gente aproveitar que está de madrugada e miar desesperadamente pra ver se ele escuta. E, pelo amor de deus, volta a dormir.