terça-feira, janeiro 30, 2007

O maior espetáculo da terra

A coisa mais legal do lançamento do CD do Gaita-l é a sua premissa. Ela não está escrita em nenhum papel, ninguém a solicita verbalmente, acho até que a maioria da galera a adota sem nem perceber. Mas ela sempre está presente.

Essa premissa é o desprendimento.

Desprendimento de tudo: de medos, de preconceitos, de ambições, de dúvidas.
Porque no lançamento do CD do Gaita-l não existe medo de palco, não existe lugar bom ou ruim - seja para dormir, seja para tocar - ninguém quer ganhar nada, não tem estilo musical pré-definido, não tem regra e não tem frescura. Aí o povo que vem pela primeira vez fica com aquela cara de deslumbrado, de "como pode continuar sendo tão bom".
E a única resposta é que a premissa continua valendo.
Porque quando ninguém está preso, seja a convenções, seja às suas regrinhas internas, seja à timidez, as coisas acontecem de forma genuína.
E cada coisa, por menor que seja, que cada um faz, fica enorme, porque não havia expectativa alguma, muito menos cobrança.
Manter o desprendimento e a genuinidade tanto do CD como dos lançamentos foi a melhor estratégia para fazer com que cada um deles, seja em BH, em Santos ou no Rio, fosse único.
E essa grande sacada, se foi espertamente implementada pelo Kenji, contou com a colaboração de todo mundo, absolutamente todo mundo, que algum dia já participou de algum CD ou lançamento, para funcionar. Por isso que essas pessoas são tão bacanas e fazem esses encontros momentos tão especiais.
Espero que as coisas continuem assim e tenho certeza que continuarão.
Amém.


Alguns gaitistas presentes em BH esse fim de semana

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Gattaca

Ontem tive um insight: deve existir uma explicação genética para a escolha de alguns indivíduos pelo socialismo.

Explico-me. Quanto mais eu leio, mais me convenço que o capitalismo é o sistema hegemônico no mundo exatamente porque ele é o que melhor se encaixa nas características gerais da humanidade.
Porque vejamos, enquanto o socialismo (aos liberais de plantão aviso de antemão que estou falando do socialismo ideal, e não das experiências vividas em alguns países como a Rússia, muito menos a China) almeja uma sociedade com valores mais fraternos, (igualdade, fraternidade, desprendimento, altruísmo), o capitalismo suporta bem valores, digamos, mais individualistas como a ambição, o poder, a violência, a vingança. E o fato é que para a maioria dos mortais isso está ok. Isso acontece, provavelmente, porque a sociedade é formada por pessoas ambiciosas, violentas, vingativas e com sede de poder em uma proporção que permite ao grupo em geral, aceitar essas situações e conceitos com naturalidade. Estou, evidentemente longe de dizer que todos os membros das sociedades capitalistas são ambiciosos, violentos, vingativos e têm sede de poder, teorizo, apenas, que o contato com essas características no cotidiano, nas relações subjetivas, permite que elas sejam aceitáveis no âmbito macro.

O que a genética tem com isso? Chegarei lá.

De acordo com esse raciocínio, o socialismo teria alguma chance de existência se a maioria dos integrantes de uma sociedade percebesse em sua volta, nas suas relações cotidianas uma tendência à adoção destes valores altruísticos já citados. Essa possibilidade, aqui entre nós, é bem remota.
Sendo assim, o que faria alguns indivíduos da nossa sociedade insistirem tanto na construção de uma sociedade igualitária? O que motiva esses seres a indignar-se e ruborizar diante das injustiças do mundo desde a fome, a subnutrição infantil, a guerra, a ditadura, até a destruição do ecossistema, a circuncisão feminina ou mesmo a extinção do rinoceronte branco de um chifre só? E principalmente, o que faz com que esse grupo de seres humanos acredite na tendência da sociedade em adotar seus valores?
Vamos às suas características, i. eles são minoria absoluta no mundo, ii. em algumas regiões do planeta, entretanto, é possível observar aglomerações destes indivíduos, iii. muitas vezes são vários membros em uma única família, iii. argumentos, pressões e até tortura habitualmente não conseguem dissuadi-los de seus pensamentos, o que pode demonstrar que se trata de uma coisa intrínseca ao ser, e não apenas racional iv. a idade também parece não influenciar na condição específica.

A reposta pode, perfeitamente, ser um gene. O gene da utopia social. Não há pesquisas que apontam para o gene da crença religiosa? Poderia até ser uma mutação, o gene da crença na sociedade. Podem surgir, inclusive, especulações sobre a origem do gene. Talvez Russeau, ou mesmo Marx. Não é má idéia para pesquisa. Fica a sugestão para os amigos biólogos.

(post inspirado no artigo "Sejamos Lógicos" do economista Antônio Delfim Netto, publicado no Valor Econômico de ontem - 23/01 e provavelmente pela falta do Chico Lobo que foi para a Alemanha e agora não tenho com quem dividir teorias esdrúxulas)


Eduardo Galeano é um espécime a ser estudado para comprovar, ou não, minha teoria

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Conte Comigo

O importante nesse mundo é ter amigos. Quinta agora precisava contratar um jornalista no Rio de um dia para o outro. Na mesa do boteco, a Bárbara deu dois telefonemas e estamos aí com o jornalista. Na sexta, precisei de um fotógrafo para aquela hora exata. Vem o Beto e salva o dia. Hoje não sabia exportar imagens de um arquivo Corel e o Marcelo me ensinou. Quem tem amigo tem tudo.
E não estou falando dessa história de networking. Meus amigos são meus amigos, se eles quebram galhos de vez em quando ótimo, mas eu gosto deles por milhões de motivos diversos, além deste. Esse negócio de networking me dá uma certa coceira porque parece coisa de quem não tem vida pessoal, só profissional. Sabe esse povo que come, dorme, lancha, sonha e trepa pensando no futuro profissional, nas realizações e afins? Esse tipo de gente é que constrói uma networking. Gente como eu simplesmente recorre aos meus amigos e tudo bem.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

A Roda da Fortuna

Esse ano de 2007 terei que fazer uma coisa que nunca fiz na vida. Um planejamento financeiro. Vou colocar minhas despesas fixas no papel, saber quanto sobra, quanto pretendo guardar e o que eu vou priorizar de gasto. Quer dizer, como vou investir, financeiramente, em mim como pessoa humana individual e subjetiva, sabe como?
Lembrei da Luana, minha irmã, aos três aninhos. Quando perguntávamos o que ela seria quando crescesse, ela respondia:
- Pessoa!

Mal sabia ela, mal sabia eu, que o tal de virar "pessoa" é um processo e dos mais complexos. Fato é que feliz ou infelizmente, o ser humano é um bicho pra lá de complicado e mesmo passando pelo mesmo processo que todo ser vivo - nascer, crescer, amadurecer, procriar e morrer - adora meter (ato falho?) dúvidas, desejos, traumas, angústias e ansiedades nos entremeios de cada etapa.
Inveja da simplicidade dos cnidários.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Programão

Como a cidade está mesmo vazia e as opções culturais são quase nulas, me atrevo a dizer que o melhor programa do mês de janeiro em Beagá será:



Festa de Lançamento do CD Gaita-List
Data: 26 de janeiro de 2007, Sexta-feira
Horário: a partir das 20h
Local: Pau e Pedra
Av. Getúlio Vargas 489, Funcionários
Belo Horizonte / MG
Tel (31) 3284-2397

Maiores detalhes, aqui

segunda-feira, janeiro 15, 2007

FINDI

Um fim de semana pode ser (as possibilidades nesse caso são infindáveis) ranquiado de acordo com três medições:
os produtos culturais consumidos
o número de pessoas que você interagiu (1 ponto para as conhecidas, 2 pontos para novos contatos)
a quantidade de doses etílicas ingeridas

Dentro dessa perspectiva posso dizer que o fim de semana foi bem positivo.
O primeiro quesito foi o mais prejudicado, o que se explica pela priorização dos itens subjacentes. Sem contar que a leitura da (revista) Cult, com um dossiê sobre mito e verdade na tragédia grega é pouco, mas já é bom.
A interação foi o ponto alto nos dois dias. Tanto com os bons amigos, daqueles que você fica se perguntando incessantemente porque encontra tão pouco, como com figurinhas novas, agradabilíssimas, divertidas, daquelas que você fica se perguntando incessantemente como não as conheceu antes. Sem contar aquela terceira categoria de boas pessoas que você encontrou uma ou duas vezes, ainda não pode chamar de amiga, mas tem uma clara inclinação para tornar-se.
O terceiro ponto do ranque coroa o segundo e facilita a fluência e as risadas. A única desvantagem é que transforma a manhã de domingo em um suplício de dor de cabeça e fotofobia, mas passa. Que venga el próximo findi.

domingo, janeiro 14, 2007

MIGO

"Li hoje, embasbacado, o lamento do velho Frieiro. Leia comigo as palavras dele: tomei uma decisão suicida. Resolvi queimar e queimei ontem, chorando, meu velho diário. Vinte e dois cadernos, quatro mil páginas manuscritas cobrindo dez anos de escrita confessional e memorialística. Nelas relatava, minucioso, a vida cotidiana e as futricas provincianas de Belo Horizonte. Noêmia e eu, queimando os cadernos, chorávamos aos prantos:
- Era sua obra-prima, bem - me dizia ela.
Lendo esse lamento, decidi escrever, eu também, meus vinte e dois cadernos. Não para queimar - c'ê besta! -. Mas para me expressar e guardar. Quem sabe, publicar. Para isso se escreve."



Darcy Ribeiro - 1988