quinta-feira, janeiro 30, 2003

30 de janeiro

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Ontem nós fomos assistir Spider. Um Cronenberg atípico para muitos. Eu não sei.

Em todos os filmes dele que assisti o tema sempre foi “até onde a mente humana pode chegar”. Principalmente quando o assunto é esquisitice. Gente com poderes paranormais, gente obcecada por câmeras, ou por joguinhos de realidade virtual. Até gente que sente tesão por carro. O que poderia ser mais esquisito que a mente de um esquizofrênico?

Aí vem o estranhamento dos que acompanham o Cronenberg. O filme é cru, não tem fantasia, não tem duplo sentido. Por quê?

Porque o esquizofrênico é assim. Para ele não existe metáfora. O que é, é. O que não é, é também, pois ele não sabe distinguir realidade, fantasia, cisma, dor. Um esquizofrênico não tem dúvidas.

Ele usa todas as camisas para não ter que sofrer escolhendo qual usar naquele dia; não olha diretamente para nada que possa lembra-lo algum sofrimento; anota todos seus planos de vingança num caderninho para não esquece-los (como se ele não pensasse exclusivamente nisso); é capaz de lavar as mãos de minuto em minuto mesmo ficando mais de um mês sem tomar banho (ou vice-versa); realmente ouve e vê todos os fantasmas que atormentam a sua cabeça.

Cronenberg optou pela verossimilhança. Realizou um filme que disseca, descreve com riqueza de detalhes, uma patologia que resume e aprofunda o seu tema preferido. Uma obsessão tão forte com os nós da própria mente, que transforma o ambiente e cria uma realidade pessoal. Uma aranha presa na própria teia.

Entre minhas primeiras lembranças, acho que com 4 anos mais ou menos, está uma brincadeira. A cama de casal da minha tia, sempre com uma colcha vermelha, enorme para duas crianças, era uma teia. Ora eu era a aranha, ora eu era o mosquito. A brincadeira chamava teia de aranha e eu brincava com meu primo Binho.


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