terça-feira, março 29, 2005

Laços de Família

Por essas coisas da vida, ontem eu estava com o atestado de óbito da minha avó paterna, Dona Josepha. Descobri, então, que tive um bisavô chamado Cornélio Alves de Oliveira e que minha bisavó chamava-se Balbina Pereira da Silva, tadinha.
Dona Josepha morreu de um AVC (acidente vascular cerebral) hemorrágico causado por arterioesclerose e hipertensão, em casa, no dia dois de março, há quase trinta anos atrás. Era diabética, assim como é meu pai hoje.
A avozinha deixou seu segundo marido, o vô Clementino, mas quando morreu já era viúva do verdadeiro pai do meu pai. Seu nome era José Alves Silva. José Alves Silva. Existe nome mais genérico do que José Alves Silva? Tem sim, o nome de solteira da minha avó materna: Maria José da Silva.
Dona Josepha, Seu Cornélio, Dona Balbina, Seu Quelé, Dona Maria ou Dona Zezé, Seu Zé.
Minha ascendência é o povo brasileiro.


Foto de Sebastião Salgado

quinta-feira, março 24, 2005

Reds

"tudo o que nasce traz dentro de si o germe de sua própria destruição"

A dialética citação foi retirada do artigo Anacondas Municipais - Vitória das forças populares de Mylton Severiano publicado na revista Caros Amigos.

quinta-feira, março 17, 2005

Constantine

Eu não diria que o filme é ruim, mas bom ele também não é.

O ritmo e o suspense são bons, eu senti mêda (como diz o dr. Omni) mas eu sinto mêda fácil. Também é legal como o filme trabalha nossos medos infantis incutidos pela igreja católica do tipo: não faça isso porque Deus castiga ou você vai para o inferno se tentar aquilo.

De resto, sobra um amontoado de clichês vindos de um amontoado de outros filmes do gênero ação/terror/ficção. Eu poderia descrever exatamente as cenas "inspiradas" em outros filmes, mas perderia a graça para quem ainda não assistiu.

Vou, portanto, apenas citar os filmes dos quais, em algum momento, me lembrei durante a sessão de Constantine:

Matrix - essa referência é óbvia, então posso comentar. Não agüento mais ver Keanu Reeves no papel de o-último-serenata-de-amor-da-caixa-de-bombons-Garoto, ou de a-última-esperança-da-humanidade, ou de o-último-cigarro-do-último-maço-da-ilha-deserta, sabe como?

Além dele, o filme lembra em alguns momentos:
O Grito (mas O chamado também serve);
X-Men;
Alien;
Anjos Rebeldes;
A Múmia (e dessa vez não é por causa da mocinha)
Advogado do Diabo.

Essas são referências diretas, sem contar, é claro, os chavões genéricos: padres, estudiosos religiosos, profecias, textos em sânscrito, blá, blá, blá...

Mudo completamente de assunto para fazer uma pergunta, aos meus amigos que fumam, de cunho filosófico-butequístico ainda influenciada pelo Jim Jarmush:

Você fumaria o último-cigarro-do-último-maço-da-ilha-deserta??

quarta-feira, março 16, 2005

The Majestic

Coffee and Cigarrettes
Excelente! Melhor ainda para quem já conhece o estilo e o humor do Jim Jarmush. Aliás o filme é fidelíssimo ao seu estilo. Muito provavelmente porque ele se sentiu mais à vontade na hora de filmar os curtas. São 11 historinhas. A última é linda. Por que esses diretores sempre deixam o melhor para o final?

Barravento
Finalmente assisti o primeiro longa do Glauber Rocha. Lembra um documentário antropológico. Nos primeiros 10 minutos de filme tem roda de samba ancestral (com direito até a umbigadas) luta de capoeira e candomblé.
A história é interessante e já são bem perceptíveis as maluquices do Glauber, mesmo sendo esse um filme mais careta, por exemplo, que Cabeças Cortadas ou A idade da Terra. Eu não acho isso necessariamente ruim, nem bom. Gosto do Glauber do qualquer jeito, mais ou menos comedido, não importa.
Destaque para o personagem Firmino, vivido pelo Antônio Pitanga novinho e muito bonito. Firmino auto-intitula-se um "agente subversivo". O detalhe é que se trata de uma vila de pescadores, onde todo mundo é paupérrimo e, como o mesmo personagem diz, "analfabeto". De onde que o Firmino tirou o agente subversivo dele é que eu não sei. Quer dizer, sei: são as maluquices do Glauber.


cena de Barravento

segunda-feira, março 14, 2005

O pagador de promessa

Filmes que quero assistir em breve e pretendo comentar nesse blog:

Coffee and Cigarettes - Jim Jarmush.
Imperdível. Eu e Kenji devemos assistir ainda hoje. Eu só não sei se é um bom filme para assistir depois de 20 dias sem cigarro....sinta a força em você, Ludmila-san...

Constantine
Não é só porque eu gosto de heróis de revistas em quadrinhos. Mas também.
Não é só porque tem o Keanu Reeves. Mas também.
Não é só porque de vez em quando eu quero assistir a um filme que não use toda minha capacidade intelectual. Mas também.

Hora de voltar
Parece que infelizmente não estreou na minha roceira Belo Horizonte. Verei assim que sair.
Eu não daria um centavo por aquele rapaz da série Scrubs da Sony, ator-diretor-roteirista do filme, mas o Max indicou e as aparências enganam (na maioria das vezes, felizmente).

Acho que Sideways e Em Busca da Terra do Nunca ficaram para o DVD....


um dos curtas que compõem o "coffee and cigarttes" do Jarmush. Esse inclusive eu vi, na sala Humberto Mauro.

quarta-feira, março 09, 2005

Marnie, Confissões de Uma Ladra

Na minha adolescência, quando estava descobrindo poemas e poetas, confundia o Dalton Trevisan com o Lauro Trevisan.

Sim, eu tenho muita vergonha de assumir isso assim, em público, mas é verdade.

Depois de um tempo, até pelas críticas, descobri que eram duas pessoas diferentes, mas já estava naquela fase de hum... um dia compro um livro do Dalton pra conhecer... mas sempre voltava para casa com um Drumond ou Quintana básicos. Puro medo de arriscar.

Semana passada finalmente, li um livreto do Dalton Trevisan. Que porrada eu levei. Primeiro porque eu me toquei que nunca havia lido antes. Sofri. Trinta e um anos nas costas, vividos sem Dalton Trevisan, sem a sua síntese. Um homem e uma poesia, sintéticos. Segundo porque é impossível lê-lo sem tomar muita porrada. Porrada mesmo, física, quase jorrou sangue do meu supercílio no quinto poemeto de quatro linhas.

Assustada, a velha pula da cadeira, se debruça na cama:
- João. Fale comigo, João.
Geme fundo, abre o olhinho vazio, um palavrão:
- Bruuuxa... Diaaaba...
- Ai, que susto. Graças à Deus.

Tristeza é ver florindo o vasinho de violeta no quarto da filha morta.


Mais uma vez por acaso, rebugenta pelo dia internacional da mulher, que eu acho uma boçalidade sem tamanho, me deparo no site paralelos.org
com um mulher chamada Ivana Arruda Leite que escreve textos maravilhosos e que eu nunca tinha ouvido falar. Li tudo que eu encontrei na internet dela, no blog, num outro site literário, se encontrar mais eu leio e vou comprar os livros. Vejam isso:

A CAIXA VAZIA

Afogados neste aquário, Ofélia e eu andamos de um lado pro outro entre bibelôs, panelas, artigos de limpeza, calcinha pendurada no box. O que é o casamento senão uma caixa vazia com tudo dentro?
Na churrasqueira, um marido girando no espeto enquanto a mulher vai ao forno com tomate na boca. Por sorte mantiveram-me a certa distância da brasa. Ofélia fica linda com esta peruca de fios de ovos.
- Me empresta seus óculos - ela pede ? minha vista tem piorado muito nos últimos tempos. Quando subir me leve um copo d?água, mas não acenda a luz, por favor.
Vinte anos tentando achar o pijama no escuro.
- Trouxe a água?
Quando eu me deitar, a Princesa ganirá. A cadela insiste em deitar no meu lugar. Tento me encaixar sem esmagar suas frágeis patinhas.
A mesa de jantar foi presente de um tio.
- Entre as cabeceiras haverá um monte de filhos ? profetizou.
O mais velho apareceu-me embrulhado num cobertor:
- É um menino!
A segunda passou anos martelando no piano a mesma lição, até que trocou o instrumento por uma bicicleta. De vez em quando me liga a cobrar dos Estados Unidos.
O terceiro nasceu doentinho. Nem eu nem Ofélia tivemos coragem de jogá-lo escada a baixo. Hoje está ai, de barba na cara, querendo casar.
Os prepúcios que enterramos no jardim viraram árvores frondosas. Uma nuvem de mariposas circunda o pau dos meus meninos. Algum dinheiro sempre some da minha carteira, mas nada que os desabone. Na mesa da cozinha tem sempre um fazendo o dever de casa: ca co cu. Para que tanto filho, meu Deus?
No púbis das meninas, uma penugem rala ao redor da rosa cor de sangue. Como sangram essas meninas!
- Não mexa no botão da rosa.
Com dedos engordurados, desmancho o frango pelas juntas. Deus também desfaria a criação se previsse o resultado.
- Quando subir não esqueça de me trazer um copo d?água. Quando descer apague a luz. Quando sair bata a porta. Quando entrar limpe os pés. Quando arrotar peça desculpas. Quando mijar levante a tampa da privada. Quando trepar goze. Quando gozar, gema, bem molinha pra comer com pão.
Abro a porta da garagem e tiro o carro em ponto morto. Se Ofélia acordar, vai querer saber aonde estou indo. Eu lhe direi que vou devolver o filme à locadora. Duvido que ela entenda a metáfora. Amanhã me encontram numa rua deserta com uma bala na cabeça. Estou levando os meus óculos. Sem eles, Ofélia não lerá uma palavra do bilhete que deixei sobre o criado-mudo.


Moral da história: não devemos nos acomodar com nossos poetas preferidos. Não podemos nos transformar em velhos sisudos e rabugentos que ficam relendo livros e autores e dizendo no-meu-tempo-era-melhor. A vida pode ser uma porcaria, mas há poetas. Isso não podemos negar. Aí está a Ivana que não me deixa mentir.



esse eu quero comprar

sexta-feira, março 04, 2005

A última sessão de cinema

Os filmes que ganhariam o Oscar 2005 de melhor filme, se eu fosse Deus e matasse todos os membros da Academia:

Código 46
Excelente ficção científica, de uma sutileza estarrecedora e pior: verossímil. A mais inteligente versão de 1984 (sim, esse filme é uma adaptação de 1984, não duvide). Atores excelentes. Imperdível. Uma pena que poucas pessoas tenham reparado nesse filme.

Mar Adentro
Pelo amor de Deus, não comparem esse filme com Menina de Ouro. Não estou tirando o mérito do grande vencedor do Oscar 2005 com os membros da Academia vivos, mas vejam bem, são duas coisas completamente diferentes. Menina de Ouro conta competentemente uma história. Mar Adentro é um filme poético. Os mais belos momentos de Mar Adentro são aqueles que o filme, o ator, a narrativa ultrapassam a condição de tetraplégico entrevado querendo morrer e mostram como aquele ser humano é capaz, complexo, sensível, inteligente, assim como os seres humanos costumam (ou deveriam) ser. Eu comecei a chorar na cena do vôo e só parei 30 minutos depois que o filme já tinha acabado. Impossível não mencionar: O Javier Bardem é estupendo. Lindo, lindo, lindo e um ator competentíssimo. Sonho de consumo.

Closer
Valeu a pena esperar. Como valeu. Mike Nichols demorou décadas para voltar a filmar, mas filmou com maestria. Perfeito. Diálogos perfeitos, atores perfeitos. O filme tem quatro atores. Só, exclusivamente, quatro rostos o filme inteiro e quando acaba você pede mais. Quatro personagens-protótipos e nenhum, em nenhum momento, caricatural. Não quero ser repetitiva, então vou falar só mais uma vez: perfeito. Dica: se você é mulher e mora em BH, destaque para o personagem de Jude Law. Você reconhecerá facilmente os traços da intrigante personalidade do nosso mais comum tipinho masculino que lotam nossas ruas, barzinhos e boates. Risível.


Olha isso...