domingo, maio 02, 2004

Eles não usam black-tie

Essa noite sonhei com o Eduardo Galeano. No sonho, ele dizia que quando “As veias abertas da América Latina” foi lançado, ele realmente acreditava que o livro poderia mudar mundo, que as pessoas o leriam e, informadas, iriam para as ruas, mudariam o sistema.

Ontem foi primeiro de maio. Do carro de som que passou aqui no centro da cidade, eles gritavam no microfone:
Eu já falei, vou repetir,
O Lula é vendido, pro FMI


Em São Paulo, dois milhões de pessoas lotaram as manifestações da CUT e da Força Sindical. Claro, além de shows com Wanessa Camargo, Sandy e Júnior, Daniel, eles sortearam até apartamento.

Meu sonho fala um pouco de desilusão. O tom do Eduardo Galeano era de “olha que bobagem...”. E no fundo é uma bobagem mesmo. Mas a bobagem é minha, de me deixar envolver por essa superficialidade que hoje impera em algumas esferas da vida política. Por mais que as políticas públicas adotadas pelo governo Lula e a sua inércia sejam uma enorme decepção, por mais que movimentos sociais organizados, que apresentam uma estrutura tradiconal, como o sindicalismo não nos diga mais absolutamente nada, nem tudo está perdido. Em outros lugares, através de novas configurações, na maioria das vezes distantes da mídia, muitos ainda se reúnem, atuam, planejam, desenvolvem ações. Nesses espaços novos, onde uma nova mentalidade está sendo formada, permanece ativa a possibilidade de mudança, de participação e de desenvolvimento social.

Eu sei que um único livro não pode mudar o mundo. Agora, seria possível mudar qualquer coisa no mundo, se os livros não fossem escritos?







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