quarta-feira, outubro 13, 2004

O Homem nu



Empinei papagaio, conversei com as galinhas, investi em mal traçadas linhas, falei "quede" no lugar de "cadê", estudei, matei aula, roubei jabuticaba do meu próprio pé, tive medo de azedar, tive medo de cair, aceitei-me mentecapta, me chamei de menino, chamei o menino pra brincar, ri de mim, ri dos outros, contei causo, conheci Minas por dentro, por fora e do avesso, troquei cartas, aprontei as piores gafes, vi a lua quadrada, num céu que não era meu, fui peralta e gostei. Tudo, tudo, tudo dentro de seus livros.

Foi ele quem perguntou: será o tabuleiro de damas preto com quadrados brancos, branco com quadrados pretos, ou de outra cor, pintado com quadrados pretos e brancos?
Eu nunca respondi e não tenho a resposta, mas, pelo menos, nunca mais parei de me perguntar sempre: é branco? É preto? Ou é de outra cor escondida?
Isso também, dentro de seus livros.

Morreu menino. Talvez o último, na sua idade, dos meninos da minha cidade.
Eu fui pra debaixo do ipê, chorar, coração, cotovelo e joelhos arranhados, minha última queda de bicicleta.




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