terça-feira, janeiro 22, 2008

Mulher maravilha ou Tudo é culpa da Britney Spears

Tem uma coisa engraçada na psicanálise que é a redefinição da realidade. Tipo, tem uma coisa que aconteceu na sua vida e de repente o analista questiona se aquilo aconteceu de fato, da forma como você apreendeu. Não que ele, ou ela, não compreenda que se você apreendeu daquele jeito, aquilo é aquilo pra você, mas surge uma oportunidade de redefinir algumas coisas. Inclusive no seu passado, inclusive no seu presente e, com isso, no seu futuro também. Porque talvez você espere que uma situação se repita, e compreender que é possível apreendê-la de outra maneira, dá uma certa liberdade.

Uma vez eu vi um psicanalista num programa excelente que passava na TV Cultura e que eu acho que não passa mais, chamado Café Filosófico. Ele disse que neurose é como um caminho da roça. Você aprende a utilizar aquele caminho e depois é muito difícil, e segundo o próprio é necessário muita coragem, para encontrar outras maneiras de chegar ao lugar desejado. O exemplo que ele usou era simples. Uma criança só obtinha a atenção da mãe através da violência. Numa outra casa, em outro contexto, a criança provavelmente iria incomodar ao máximo todo mundo até alguém não agüentar mais e tratá-la com violência. O ciclo então estaria fechado. Ela teria a devida atenção da única forma que sabia, apanhando. Depois que eu assisti a palestra desse cara eu resolvi fazer análise.

Sobre esses caminhos, dá pra dizer que às vezes você passa por alguns deles que não foram construídos exclusivamente por você ou pela sua família. Alguns são comuns para uma parcela da sociedade seja em função da classe social, do gênero, da religião. Claro que nem todos os membros dessa parcela vão necessariamente adotar esse caminho. Ele só é conhecido por muitos. Por exemplo, a depressão. Põe o dedinho aqui quem não conhece alguém que passou por ela, ou melhor, põe o dedinho aqui quem nunca a encontrou. Por que nós nos deprimimos? Provavelmente porque dividimos vários desses caminhos tortuosos.

Entre esses grupos, que costumam dividir tais caminhos, estamos nós, as senhoras mulheres. A Lori falou uma coisa que é verdade, há pouco mais de um século atrás, nem gente nós éramos. Ou como diria meu professor de filosofia, "a mulher torna-se sujeito no século XIX". Acontece que para "tornar-se sujeito" paga-se um preço. Inclusive os homens já o pagaram. Hoje o pagamos todos. Antes quem não chorava eram os homens. Atualmente ninguém mais pode chorar. Nós mulheres devemos ser tão duras, racionais e objetivas como qualquer um. Como se qualquer ser humano não tivesse o direito de deixar-se levar pelas suas próprias emoções. Nós nos encarceramos onde antes apenas os homens se trancafiavam. Encontram-se, os sexos, no mesmo caminho. O errado, evidentemente.

Para piorar, as diferenças entre os gêneros permanecem, e o caminho afeta cada um de maneira específica. Nós tentamos nos adaptar e muitas vezes negamos o que somos. Um exemplo interessante é a relação com a maternidade. Hoje em dia existem dois tipos de mães: as precoces e as tardias. Ninguém mais pensa em engravidar aos 23, 24 anos, o que ocorre são os acidentes, quase sempre reprovados socialmente. E a razão é simples, nessa idade, a mulher acabou de se formar e tem uma carreira para construir. Como arrumar um emprego razoável, fazer um mestrado, um doutorado, a viagem dos seus sonhos, com um filho para sustentar? Resta às mulheres, portanto, dedicarem-se ao trabalho e tornarem-se muito bem-sucedidas. Muitas, entretanto, descobrem, tardiamente, que o que mais queriam na vida era um filho. E assim caminha a indústria da reprodução assistida. O pior é que essa falta de espaço nas nossas vidas alcançou, inclusive, a menstruação. A TPM é o mal do século. Nós, mulheres, não sabemos mais lidar com a fragilidade. Com o recolhimento. Com o 'sentimento à flor da pele'. Isso é coisa de gente fraca, que se deixa levar pelas emoções, não é racional nem objetivo. Não nos serve. Não há tempo mais para isso. Nos tornamos seres que descartam o que lhes é inerente para seguir um caminho que nem mesmo construímos. Não seria hora de nos colocarmos sob uma nova perspectiva?


Que fantasia é essa??

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Preguiça de esperar

Fui pra frente da TV domingo à noite contando com a sessão Cult Movie do Telecine Cult.
Não rolou, ia passar um filme de terror de 1972. Cult demais pro meu gosto.
Aí eu comecei a zapear e cheguei ao Canal Futura onde a Leandra Leal (a atriz de 'O homem que copiava', sabe?) apresentava o filme, que segundo o texto que ela lia no teleprompter era excelente, Eterna Espera. Na verdade, Le Vent de la Nuit, do cineasta francês Phillippe Garrel.
O argumento me pareceu realmente interessante. Um dos personagens, inspirado no próprio diretor, é um homem sofrido que conta as mazelas (leia-se torturas) vividas
pelos jovens politizados da geração de 68, para um cara mais novo.
O filme tinha tudo para ser ótimo, inclusive, a Catherine Deneuve, que eu adoro.
Começa. 4 minutos de Catherine Deneuve subindo escada, abrindo porta, limpando a casa, arrumando a cama.

Eu me pergunto: por que cargas d'água todo filme francês começa com uma sequência de trivialidades? E por que em todas essas sequências sempre tem uma imagem fixa, o ator passa pela imagem fixa e ela fica lá, fixa, por mais pelo menos 30 segundos?

Bom, nesse momento, chega o namorado/amante da Catherine Deneuve. trata-se de um jovem rapaz e a Catherine Deneuve faz aquela cara de sou uma mulher mais velha insegura.
Nas três primeiras frases da conversa a sra. Deneuve me solta: Você quer sexo?
Na sequência, eles já estão deitadinhos na cama, ou seja, o sexo já rolou, e a dona insiste naquelas perguntinhas desnecessárias:
Você gosta de mim?
Você quer ter filhos? Eu não posso ter filhos, sabia?
Você quer terminar comigo?
O moço, na maioria das vezes, dá uma resposta até razoável: Você está doida?

Eu me pergunto outra vez: por que, por favor, alguém me explique, por que todo filme francês tem um casal que fica trancado no quarto discutindo?

Tem mais: por que os cineastas franceses adoram utilizar o relacionamento homem/mulher de metáfora sobre qualquer coisa que eles queiram falar?

Depois de mais alguns diálogos xaropes eu cansei de esperar o Eterna Espera começar efetivamente e voltei a zapear.

Parei no Universal Channel que passava Os esquecidos (The Forgotten, EUA, 2004), com a Julianne Moore.
O oposto absoluto. Nunca vi um argumento mais estúpido, acontece que pelo menos era engraçado. E tinha ação.
Os diálogos também não faziam o menor sentido, porém não tinha nenhuma metáfora envolvida. A idéia é que era absurda mesmo!

Tudo bem, eu me rendi, no domingo à noite, ao cinemão entretenimento não-pense-muito-para-não-doer.
Provavelmente, em algum momento, o filme do Phillippe Garrel realmente ficou muito bom, profundo e discutiu questões importantes para a juventude despolitizada dos anos 2000.

Mas, sinceramente, formatão por formatão, às vezes eu prefiro os filmes despretensiosos.



Os esquecidos, filme onde a Julianne Moore é uma mãe que procura por um filho que supostamente não existe

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Férias.


Como é bom estar de férias.
Hoje eu andei de Santa Efigênia até a Floresta simplesmente
porque tive preguiça de pegar dois ônibus.
Tempo não era um prblema. Não é ótimo?
Eu ainda posso fazer uma viagem rápida para Tiradentes e não me preocupar
se vou voltar domingo,
porque eu não trabalho na segunda.

Como é fácil se acostumar com isso.


Tiradentes, adoro essa cidade.

terça-feira, janeiro 01, 2008

O ano em que meus pais saíram de férias

Ok, vamos ao balanço.
Eu quis escrever mais aqui em 2007, não deu.
O ano que passou não foi fácil. O Kenji fez uma retrospectiva interessante onde ficou claro:
2007 foi corrido e estressante.
Mas também foi um ano de conquistas. A principal delas foi, sinceramente, ter passado por ele sem se perder.
Hum, o que eu quero dizer com isso?
É que independente das dificuldades, consegui manter intacto o que realmente importa:
a minha saúde (física e mental), os meus relacionamentos, as finanças equilibradas e a
minha integridade. Aliás, sem o Jonas, sem a análise, acredito que teria sido muito mais difícil.
Óbvio que também tive que priorizar um monte de coisas e deixar outras de lado.
Foi um ano que eu praticamente não fui ao cinema, escrevi muito pouco (fora do trabalho) e li menos do que gostaria.
Foi um ano em que eu não fui a uma boate sequer e assisti pouquíssimos shows.
A diversão, em 2007, foi garantida, na verdade, pela Barbearia de Blues. Verdadeiras pílulas semanais de bom humor.
Foi através da Barbearia que fiz novos amigos. Isso, inclusive, deve ser registrado como um acontecimento absolutamente
positivo de 2007, tendo em vista que hoje é muito fácil conhecer pessoas, mas bem difícil consolidar amizades.
Aprender a priorizar, aliás, não é de todo ruim. Porque você também aprende a priorizar o que é bom.
Quando o tempo é curto, e a maré não está a seu favor, as coisas menores, picuinhas, chatices, acabam rendendo menos desconforto.
2007 foi um ano ótimo para praticar o sempre positivo exercício de relevar.
E relevar também envolve aceitar as coisas e as pessoas como elas são. Uma tarefa nem sempre fácil.

Para 2008, espero, sinceramente, menos correria, menos acontecimentos surpreendentes, mais calmaria. Quem sabe, talvez, até um pouquinho de sorte.
Entre as resoluções, quero insistir, mais uma vez, na tentativa de aumentar a atividade física e procurar uma nutricionista.
Pronto, é o suficiente. O resto virá por si, não adianta planejar muito.

Gostaria que 2008 fosse como a passagem do ano, que comemoramos aqui em casa:
nada muito elaborado, mas com as pessoas certas, fazendo o que gostam, acabou numa festa de arromba. :-)


Sem dúvida, o melhor momento de 2007: Buenos Aires