sexta-feira, novembro 23, 2007

Clichê

Estou calmamente lendo a Folha de S. Paulo hoje e me deparo com o seguinte texto:

Crítica
Michael Mann faz obra-prima em "Miami Vice"


Paulo Santos Lima - colaboração para a Folha

O olhar é uma coisa forte nos filmes de Michael Mann. É através dele que sabemos mais sobre os personagens, homens que carregam o peso do mundo, com seus olhares meio perdidos ou misteriosos, avistando algo além do horizonte.
São assim os olhos aflitos e apaixonados de Sonny Crockett (Colin Farrell) em "Miami Vice" (TC Premium, 0h10). Ele, policial infiltrado que gamou em Isabella (Gong Li), a mulher do traficante.
Aqui vem a sensibilidade cineasta de Mann. Sabendo da diluição que seria verbalizar o drama de Sonny, a opção é fazê-lo pela imagem, ao nível da superfície, preservando as interioridades.
Mas não completamente, pois saberemos pelos olhos de um capanga que Sonny não é o único a fim de Isabella. As paixões, aqui, tumultuam ainda mais o mundo de identidades voláteis mostrado por Mann.
Outro olhar que não deve ficar de fora é o nosso. Com ele, se verá o belo exercício cinematográfico desta obra-prima -os olhos não mentem jamais.

Detalhe: não é um engano, o crítico está falando do filme Miami Vice, baseado na série, que tem como protagonistas Colin Farrell e Jamie Foxx.

Leiam comigo:

O olhar é uma coisa forte nos filmes de Michael Mann...

homens que carregam o peso do mundo ... olhares meio perdidos ou misteriosos ... algo além do horizonte...

... os olhos aflitos e apaixonados...

Ele, policial ... que gamou na mulher do traficante ... a sensibilidade cineasta de Mann...

...diluição que seria verbalizar o drama de Sonny... fazê-lo pela imagem, ao nível da superfície, preservando as interioridades...

As paixões, aqui, tumultuam ainda mais o mundo de identidades voláteis...

... o belo exercício cinematográfico desta obra-prima ... os olhos não mentem jamais.

Se fosse um filme do Ingmar Bergman, esse texto, com todas suas pérolas (sensibilidade cineasta? Verbalizar o drama? Preservando as interioridades? Identidades voláteis? Belo exercício cinematográfico? E o gran-finale: os olhos não mentem jamais) já seria a maior concentração de clichês por número de letras de todos os tempos.

Acontece que se trata de um filme de ação. Tipo Desejo de Matar do Charles Bronson, sabe? A carga dramática dos olhos do Colin Farrell é a mesma da faixa vermelha na cabeça do Silvester Stallone em Rambo. Ou da bunda da Carla Perez em Cinderela Baiana.

Não conheço esse moço, Paulo Santos Lima, não sei pra que time torce. Mas, certamente, ele contou uma piada e eu morri de rir.


Será que com esses olhares aflitos e perdidos, eles estão conseguindo preservar as suas interioridades?

8 comentários:

shikida disse...

eu acho que, a esta altura, ele já tá na interioridade dela ;-)

Clarice disse...

AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!

ô, eu acho que alguns jornalistas andaram fazendo um workshop sabrina de literatura barata! sério mesmo. já por umas duas vezes eu reparei em textos nada a ver que vinham carregados dessas manifestações líricas buscadas no mais profundo âmago do ser brega interior do seu autor. é um terror!

Jacmãe disse...

Babaquices da Folha `a parte, o filme 'e bom. Policial de primeira, me lembrou Operacao Franca. Nao e' so' explosao e tiros, nao.

(escrevendo do computador velho, relevem a falta de cedilhas e tals)

Anônimo disse...

e ele leva o trofeu silvio santos de apoteose e formas gastas! kkkkkk


bjs

rOsI disse...

Eu acho que isso caberia perfeitamente bem no MEU discurso, olhando fixo par o Colin Farrel, assim, dando umas piscadinhas... Mas como crítica, velho, é CPI no RH da Folha :DD

fernanda disse...

lud, parabéns pelo prêmio!!!
:)

Ludmila disse...

Valeu, Fê!!

Anônimo disse...

Putz